Será que já falei sobre como foi a última visita ao Brasil? Acho que não. Bom... se o fiz eu vou escrever aqui de novo. E eu bem sei, faz tempo já, alguns meses da visita. Mas isso ficou na minha cabeça, e estou há tempos pra elaborar sobre.
Fazia tempo que não visitava meu país de origem (mais de 1 ano e meio!) e voltar foi ao mesmo tempo um pouco incômodo e confortável: é como estar de volta a uma casa que você conhece, onde sabe que aquele lugar aconchegante vai estar ali te esperando, teus amigos vão no geral estar por perto etc, mas onde vc não cabe muito bem.
Muita coisa familiar e claro, várias outras coisas que mudaram também!
Como minha irmã ter tido um filho. Que mudança! Agora, nas festas de família, há um bebêzinho arrancando risadas, engatinhando, gritando e chorando de fome.
Minha irmã, por mais que tenhamos crescido juntos, nunca foi lá muito próxima a mim. Talvez por interesses divergentes, ou por termos uma certa diferença de idade considerável (quando se é adolescente). Só fomos realmente começar a interagir mais e ter amigos em comum na faculdade, oque durou uns 4 anos somente. Logo após saí de São Paulo e caí nessa vida cigana :P
A vida famíliar enrigesse a maneira como vemos os outros: aquele parente (pai, irmã, mãe) vai ser sempre do jeito A, sempre reagir da maneira B e sempre querer ser C em certas ocasiões. Eu, diante/ aos olhos deles (dela, no caso), sempre vou agir de maneira X, ser um Y, e por aí vai. Enrigecemos a maneira como o outro é por diversos motivos: para nos defendermos, para conseguirmos prever e - de certa forma entender - os outros. Infelizmente, isso não acontece com família somente, mas também com amigos, namorada(o) etc. E, nesse processo, acabamos por cometer erros enormes ao generalizarmos, terminando por confundir oque a pessoa realmente é com aquilo que imaginamos que ela seja.
E há um gap enorme entre essas duas coisas!
Sentei numa manhã de céu azul na sala da casa da minha irmã, eu, ela, sobrinho ao colo. Dividimos coisas sobre nossa mãe, sobre nosso pai, sobre a gente. E, a medida que fui falando, fui tentando me despir de tudo oque imaginava que minha irmã era, e fui falando sem muito pudor sobre coisas que achava que fossem trazer alguma hostilidade da parte dela; isso sem ser agressivo, ou assumir um "você é assim, então você vai sempre dizer isso!". Não, simplesmente dividi, compartilhei e, assim, ela me ouviu, eu a ouvi.
Confesso que me senti estranho. Estranho por ver o quão rígido eu era, fui, e o quanto estávamos os dois ali, crescendo ou tentando crescer e mudar. Não há como querer que os outros mudem se nós mesmos não fomentamos mudança dentro da gente. Como uma grande espiral que pareço sentir em diversas formas da minha vida, vi ali diversas sementes de compreensão, paciência e entendimento, brotando.
Na hora me senti envergonhado por não deixar as pessoas que me cercam, inclusive as que amo, mudarem. Em particular, por não deixar minha irmã mudar, por vê-la de uma maneira fixa. Por me agarrar às minhas crenças do que ela é e me fechar ao que ela mostra e me oferece sobre si mesma. Pensei nos amigos dos quais me afastei por não ter sido paciente, no namoro que terminou com um vácuo enorme dentro de mim - onde cada lado penou em seu próprio jeito em aceitar a mudança do outro, na minha rigidez diante dos japoneses que me cercam, na rigidez diante do mundo que me pede pra me distanciar da academia e seguir adiante de olhos semi-cerrados. Senti que oque limita muito disso é medo (meu/nosso) e que talvez a única forma de superá-lo é tentando, é ouvindo, é me despindo daquilo que ser o mundo, sombras nessa caverna, pra abrir os olhos praquilo que ele realmente é. Oque me lembra um tanto de um trecho do Amir Klink.
“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”.- Mar sem fim: 360 graus ao redor da Antártica, de Amyr Klink
Acho que isso diz tudo: pessoas são um pouco como águas que acreditamos ser frias, gélidas e que, no fundo, são apenas água. Acho que assim que deveríamos vê-las/vivê-las: sem a arrogância de acharmos que sabemos tudo sobre elas, sem medo de entrar nelas por temer o frio, mas simplesmente abraçá-las, acolhê-las pelo que são.
Vou continuar por aqui (retorno ao trabalho e entrevista hoje!). Escrevo mais em breve. :)
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