domingo, 17 de maio de 2020

Intimidade mensurada, parte I: diagramas de aceitação/excitação!

Essa semana me bateu uma saudades de São Paulo.... pra ser mais exato, das pessoas que fazem parte da minha vida, e que lá ainda moram. Lembrei de Tom Zé descrevendo as dicotomias da cidade

São oito milhões de habitantes
De todo canto em ação
Que se agridem cortesmente
Morrendo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor
São oito milhões de habitantes
Aglomerada solidão
Por mil chaminés e carros
Caseados à prestação
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
...

[Tom Zé, São, São Paulo]

Aí acabei encontrando este programa ensaio, no qual ele discute um pedaço da música que havia me passado despercebido
    
...
Salvai-nos por caridade
Pecadoras invadiram
Todo centro da cidade
Armadas de rouge e batom
Dando vivas ao bom humor
Num atentado contra o pudor
A família protegida
Um palavrão reprimido
Um pregador que condena
Uma bomba por quinzena
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito



[Tom Zé, programa ensaio, de 1990]

[Deixei no frama quase certo já...você não vai ter que ver tudo, relaxa  :P]

Fiquei rindo sozinho, encantado com a habilidade dele em extrair poesia de algo tão prosaico como ir à banca de jornal, e com a destreza poética em construir com palavras algo que, como tópico, seria totalmente inaceitável aos ouvidos das ricas cocotas paulistanas. Isso sem falar meu estarrecimento em perceber que aqueles que mais professaram amor pela cidade onde nasci são não outros senão "estrangeiros" a ela, e que por ela foram/se sentiram acolhidos.

Aí você sabe: uma coisa leva à outra...e me lembrei de algo que passou na minha cabeça no começo desse ano: sobre como uma palavra pode ser "suja" ou "limpa", a depender da forma e contexto em que a mesma é dita. Na hora eu ria sozinho de uma memória que me passou na cabeça: uma vez, durante um momento mais..assim ...picante, minha então namorada disse um "-fuck me". E não sei... continuei/continuamos ali (quem pararia, afinal haha) mas alguma coisa não desceu bem. 

Aonde estava o "erro"?

Na verdade não havia erro. Em todo caso, aquilo me fez pensar por alguns dias. Claro, acho que ela também notou que, ao menos na relação que tínhamos, aquilo não cabia muito bem. Tanto que nunca mais foi dito (ao menos não daquela forma). Me lembrei então de um curta muito bom de um casal que se esforça pra sair da mesmisse, mas...encontra barreiras em várias coisas, dentre elas a dificuldade de se encontrar palavras "adequadas" durante o sexo.



Oque torna uma palavra aceitável, menos aceitável, ou mais aceitável que outra? Oque faz nos empolgarmos com uma palavras, ao mesmo tempo que preterimos outras que não nos empolgam... ou até nos "desanimam"?


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