segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

No olho do furacão (visita à antiga casa) - parte 3

Hoje no café da manhã, mesas e mais mesas de pessoas caucasianas com 4, 5, 6, 7 filhos e famílias, sentadas todas comendo suas pancake, bacon, fruit-salad-with-no-fruit-taste-at-all.

Um homem da mesa ao lado reconhece a conversa minha e de uma amiga, em português. Se apresenta, diz que fazia capoeira, e que adora português: 

" - smoother and more mellow than spanish...". Promete-nos que da próxima ira nos dizer oi e umas palavras em português.

Penso no que era viver aqui, no que era viver tão preso a uma coisa, a um título, como foi viver por 5 anos nessa terra. 

5 fuckin' longos anos!
Eternidade!
Years!
Yeah... it was hard!

Minha amiga fala do relacionamento, de como é ser acolhida por uma outra família que não a sua em terra tão distante. Fala das dúvidas, do break-up que antecedeu a vinda à terra do tio sam. Penso em mim, no mei trajeto, no eu barquinho que aqui chegou desconhecendo tudo, ignorante quanto a tanta "selvageria" que regia o país mais rico do mundo:
A riqueza
O conforto
A sujeira debaixo do tapete

Não consigo vir, ver e viver sem me lembrar dos dias aqui.  Penso no Brasil:
A riqueza
As frutas
A sujeira debaixo do tapete

E penso que é tudo igual, fruta de plástico ou não, conforto ou não, 8% of your taxes going to the military ou não, 8% of your taxes going to bribes and politicians in Brasilia ou não... logo me vendo preso no grande rabo-preso da lógica de uma pessoa que não sai do lugar, que descobre que os predicados tinham um rabo-preso com a conclusão, que por sua vez dependiam do predicado...que por sua vez....

Nessas horas eu paro, por que me é claro que estou sentindo falta de algo: de alguém, de alguma coisa que me preenche
-Alguém viu minha rotina? A perdi no caminho, há mais de um mês não volto pra casa... ela é uma menina magrinha e atarracada, que não gosta de luxos, e tem um cachorro e um aquário com um polvo...

Penso na minha rotina, perdida no aeroporto, chorando num cantinho até ser encontrada por um adulto responsável que a leve de volta para os seus.
Esse adulto: eu, que não volto pra casa nunca
Casa... quero voltar pra minha. 
Pra ser sincero, quero encontrar casa.... e ter vindo visitar a antiga só me fez ver que há anos, e anos, e anos, eu não tenho uma própriamente dita 

E pra variar, isso me lembra algo, the great, ela se não outra: Ella

" a chair is not a chair....

A room is a still a room, even when there's nothin' there but gloomBut a room is not a house and a house is not a home
When the two of us are far apart
And one of us has a broken heart"


[A house is not a home, Ella Fitzgerald]

Na verdade pensei nisso tudono café da manhã hoje cedo, enquanto ouvia minha amiga e, no fundo, pensava em mim, com ais ou menos a mesma idade vivendo aquelas coisas todas, e a acalmava, cheia de dúvidas de tudotodotipo. 

Isso tudo pra dizer que.... andei em círculos, e cheguei no café da manhã de novo. 

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