Ando tão desanuviado por estes tempos que me os dias me seguem estranhos: sindo por dentro, que me esqueço de algo, que há algo que deixei de fazer, algo que estou em falta com algo, com alguém, com o mundo. Como um tubérculo que sabemos existir por debaixo da terra mas do qual não vemos folha a pedir sol, o esquecimento parece crescer por dentro de mim.
O esquecimento, mais do que uma aflição, virou uma hostilidade: não há sossego, não há lugar que vá em que não sinta que sim, há algo que está faltando, que era para estar ali mas não está. E que claro: não sei exatamente oque é.
Será que esqueci uma panela no fogo?
De pagar alguma conta?
Do aniversário de alguém?
De colocar uma vírgula num artigo?
De provar que a solução da equação era única?
De anexar o currículo?
De anexar o currículo e agradecer depois?
De dizer que gostava?
De dizer que não gostava?
De ligar?
De tentar ligar?
De ligar para poder dizer depois que liguei?
Me sufoca essa sensação. Acordo no meio da noite pensando
"-Oh my... acho que esq..."
e nem termino a frase e já me esqueço de novo.
"-Do que me esqueço mesmo?", me pergunto surpreso.
Noites, dias, indagações infindáveis que desvirtuam qualquer desejo por serenidade.
Sorte minha que hoje me lembrei de escrever, sobre tanto esquecimento. Antes que viesse a esquecer, tudo de novo.
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