Hoje, depois de alguns meses "parado", enferrujando, voltei a escalar.
Não sei oque foi mais difícil: o esporte em si ou chegar lá, sozinho, aprendendo a navegar num ambiente que está longe de me fazer me sentir confortável. A ausência completa de referências, de pessoas que conheço, de amigos. Minha mente parece voltar no tempo, pro primeiro dia nadando num lugar novo, pra piscina escura e suja (que não anda mais escura, nem suja) onde comecei a nadar há alguns meses, nas primeiras incursões sozinho pra escalar no Japão, nos primeiros dias de tantas coisas que encarei que esse me parece mais um, igualmente difícil, primeiro passo depois de muitos outros.
E foi engraçado. Eu ficava ali me perguntando o quanto ia levar pra eu me habituar de novo. Pra eu entender a posição geográfica daquele lugar no mapa da cidade, pra eu começar a avistar rostos conhecidos, pra eu começar a fazer daquele um lugar de conforto: umas semanas, uns dias? Me lembro do primeiro dia escalando no Japão, o acaso de conhecer alguém que acabou por me apresentar a uma outra pessoa, hoje grande amigo. Nas primeiras tentativas de se falar japonês e expressar minha angústia diante dos "puzzles" de boulder.
Hoje, de alguma maneira, fiquei ali parado, olhando aquela parede sozinho, cercado de gente mas ainda só, rememorando e provando todas essas memórias a conta gotas. O presente se mistura com o passado. Minto: o presente parece ter gosto de passado. Minto: me deparo com o presente tentando sentir se já o conheço de algum lugar... e parece que sim, o reconheço de outros carnavais.
Voltei pra casa pensativo, as mãos machucadas. "- Acho que já conheço essa sensação", penso. Meus olhos se perdem numa seringueira gigantesca que parece se desviar da ciclovia. Toda beleza me parece nova. Já toda beleza parece me dizer algo diferente.
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