terça-feira, 28 de setembro de 2021

Dear editor...

Dear referees and editors.

Anonymity does not grant you rights to be jerks. 

I think you are a fuc**** idiots who have not read the paper. 

 Sincerely, 

Momo


[I wish I could leave the academic world in such a grand style]

[but I was a bit more polite than that 😁 ]

domingo, 26 de setembro de 2021

Medos

 Você tem medo de algo? Algum medo, muitos medos?

Eu tenho um medo do qual nunca havia me dado conta até recentemente: o de me tornar uma pessoa conservadora e extremista. Virar um adorador de Trump, ou passar a votar no Maluf, coisas do tipo. Envelhescer para a direita, como uma fruta madura que passou do ponto e agora só junta moscas.

Me pergunto o quão plausível é esse medo, e de onde ele vem... seria meu estarrecimento diante de conversas com pessoas mais velhas, desconectadas do mundo e fervorosas amantes de um mundo que no passado "era melhor"? Ou seria uma tendência que vejo em muitos de normalizar aquilo que não entendemos - "todos os políticos são iguais", "direita e esquerda são iguais" etc - e passar a ser uma pessoa apática, indiferente? 

Bom... ainda não cheguei a isso. E a conversa com amigos mais velhos que ainda se mantêm coerentes com os "eus" que um dia foram me dá a esperança de que sim, de que eu envelheça com coerência enquanto me permitindo amadurecer. Salve, salve!

Outro medo é um mais recente, que me veio depois que fiquei jogado como uma estrela do mar numa plataforma de metrô de Tóquio quando passei mal e quase desmaiei: o medo de morrer sem ver as pessoas que amo. Sem poder abraçar as pessoas que gosto. Sem poder fazer piada da minha mãe e rir dela, ou de mim, com a mesma. Sem poder ver meu sobrinho e vê-lo crescer. Sem poder ter uma casa com sofá onde eu tire uma soneca à tarde. Morrer longe, como um ostracismo eterno que se estende ad infinitum como uma pausa. Acho que é um dos maiores motivos pra que eu queira sair daqui ontem.

Até me pergunto se há outros medos por baixo da pele, escondidos nos sonhos, ignorados quando não deveriam ser, ou medos-que-não-suspeito-serem-medos. Bem capaz de serem esses dois os mais assustadores que, como uma ameaça, me perturbam. Talvez porque sejam coisas que, em princípio, não posso controlar: ninguém sabe quando a vida acaba, ninguém sabe oque há de ser o amanhã. 


Bom.. não era pra ser um post fúnebre, a falar de mortes ou coisa do tipo. Acredito que seja mais um post onde tento olhar pra mim mesmo, pra dentro, e ver oque tem me feito ponderar sobre algumas decisões que tenho que tomar em breve. "Temo, mas encaro", como uma antípoda ao "penso, logo existo", me soa mais coerente com esse mundo onde não só a racionalidade guia nossos passos, mas sim como lidamos com riscos, expectativas, ansiedades, temores, desejos...



sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Direto da Terra do Sol Nascente #116: A-RAS-SU-KA

 Alaska. A-RAS-SU-KA. Grande e vermelho. Vejo daqui, da minha janela.

Tão bom sair de casa. Andar por outras ruas. Desprogramar. Isso, desprogramar uma vida de rotina, de atalhos que nos fazem escorregar pelo mundo de maneira óbvia, sem mais explorá-lo. 

Alaska. A-RAS-SU-KA. Um pedaço de gelo sobre a cabeça. É que bati agora há pouco, numa quina de um móvel. Pqp. Sangue. Ao menos com tão pouco não fico mal. Aguento. Sigo. tomo rumo. Lá vou eu, pelas ruas com um saquinho de gelo na cabeça. Não mais perdido, pois as ruas começam a me ser um pouco mais as mesmas. 

Quanta gente mais velha... pouca gente nova. Me pergunto oque é crescer numa cidade tão pequena. Ando. Olho pra dentro dos poucos cafés. Crianças no pós escola, sentadas, estudando juntas. Uns poucos jovens, 20-30 e poucos anos, descolados.... "-Ahh você vem de AAAA você conhece XXX-san? Um que usa um chapéu bem grande? " Pelo visto todos os descolados de cidades pequenas se conhecem nessa pequena terra do sol nascente.  Me pergunto oque seria ter ficado. Oque seria andar sempre pelas mesmas ruas. Oque nos faz ir pra tão longe, ficar tão perto, partir, voltar....

Alaska... você já foi?! Dizem que é lindo. um casal de amigos estão com planos de se mudar pra lá. Uma amiga, ex-roommate, mudou pra lá uma época. Vivia me convidado pra ir visitá-la, conhecer o então namorado e curtir uma neve. Achei melhor não ir... ela era meio doida. Me perguntava oque levaria uma pessoa pra um lugar tão remoto. Beleza? Curiosidade? 

Será que o Japão é remoto? Será que eu sou descolado?

Estava lendo um livro, da Esther Duflo e do esposo dela, em que ela fala sobre as origens de tanta migração, do porque das pessoas migrarem etc. Comecei a me perguntar se o meu motivo para migrar não foi outro senão uma anomalia. Anomalus migrantis: espécie estpupida que percorre o mundo a esmo, não foge de guerra, de violẽncia, de perseguição política... hei... será que fujo? Da pobreza, da desigualdade abissal que separa ricos e pobres no Brasil, da fome estridente que salta aos olhos e dói na alma, da estupidez das elites aristocráticas e egoístas (bom...nisso o Brasil não está sozinho), da classe média sempre-assustada-com-medo-de-perder-o-pouco-que-tem, das favelas que sobem os morros?!?! 

Faz tempo que não nos vemos, Brasil.... será que você mudou algo? Será que estou sendo injusto contigo? Será que teus abraços mornos não viraram nada mais, nada menos que um toque frio "à la Alaska" de um parente distante que se ve uma vez a cada 3 anos?

Era só pra ser uma viagem. Marcar o fim de um ciclo. O fim de uma era. Alaska? Bem gostaria: ver um alce, um urso, tomar um suco de berrys com gelo da rua... férias...yasumi... pena que tá acabando.




quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Intimidade

Foi num sonho. Uma moça com a qual saía enquanto no Brasil, há muitos e muitos anos. 
Conversávamos como se estivéssemos de saída, como se passássemos muito tempo próximos (emocionalmente). Confortáveis um com o outro, diria. 

Íntimos. Ou quase isso, como vocês verão em breve ;)

Ela me descrevia oque trouxera pr'aquela viagem, oque queria fazer, com a casualidade de encontros múltiplos que só o universo dos sonhos nos permite (dados tantos milhares de quilômetros de distância). "Trouxe o vestido...." e por aí vai..

A conversa se estende, e vai para o banheiro,  onde eu estou escovando os dentes e ela falando comigo. Aí, no auge da conversa-intimidade, ela se senta e faz xixi.

Isso. Como se não houvesse amanhã ou barreiras entre nós. 

No sonho, oque mais me deixou surpreso, foi a súbita sensação de estranheza daquela cena. Me senti como no "eyes wide shut", do Kubrick, logo no comecinho.



Eyes Wide Shut, by Stanley Kubrick (1999) 
Opening scene (with Nicole Kidman & Tom Cruise)

O mais curioso foi, dentro do sonho, ter essa percepção da camada de intimidade - meio não desejada, mas ainda assim intimidade - que aquilo implicava. 

Há uma cena parecida num outro lugar, um livro do Garcia Marques (o Amor nos tempos do cólera, acho): a esposa está passando mal, aí o marido a ajuda a vomitar e tudo o mais. Aí, ele também meio bêbado, se levanta cansado depois de acolhê-la, e agora ele vai e faz xixi na frente dela. Acho que nunca havia me dado conta da estranheza da cena. Se não me engano a cena é narrada sob o ponto de vista dela, que relata a força com a qual ele urina, a masculinidade daquele barulho, daquela brutalidade.... 

....vai ver só "acordei" pra esse detalhe enquanto dormia, ao sonhar.