Alaska. A-RAS-SU-KA. Grande e vermelho. Vejo daqui, da minha janela.
Tão bom sair de casa. Andar por outras ruas. Desprogramar. Isso, desprogramar uma vida de rotina, de atalhos que nos fazem escorregar pelo mundo de maneira óbvia, sem mais explorá-lo.
Alaska. A-RAS-SU-KA. Um pedaço de gelo sobre a cabeça. É que bati agora há pouco, numa quina de um móvel. Pqp. Sangue. Ao menos com tão pouco não fico mal. Aguento. Sigo. tomo rumo. Lá vou eu, pelas ruas com um saquinho de gelo na cabeça. Não mais perdido, pois as ruas começam a me ser um pouco mais as mesmas.
Quanta gente mais velha... pouca gente nova. Me pergunto oque é crescer numa cidade tão pequena. Ando. Olho pra dentro dos poucos cafés. Crianças no pós escola, sentadas, estudando juntas. Uns poucos jovens, 20-30 e poucos anos, descolados.... "-Ahh você vem de AAAA você conhece XXX-san? Um que usa um chapéu bem grande? " Pelo visto todos os descolados de cidades pequenas se conhecem nessa pequena terra do sol nascente. Me pergunto oque seria ter ficado. Oque seria andar sempre pelas mesmas ruas. Oque nos faz ir pra tão longe, ficar tão perto, partir, voltar....
Alaska... você já foi?! Dizem que é lindo. um casal de amigos estão com planos de se mudar pra lá. Uma amiga, ex-roommate, mudou pra lá uma época. Vivia me convidado pra ir visitá-la, conhecer o então namorado e curtir uma neve. Achei melhor não ir... ela era meio doida. Me perguntava oque levaria uma pessoa pra um lugar tão remoto. Beleza? Curiosidade?
Será que o Japão é remoto? Será que eu sou descolado?
Estava lendo um livro, da Esther Duflo e do esposo dela, em que ela fala sobre as origens de tanta migração, do porque das pessoas migrarem etc. Comecei a me perguntar se o meu motivo para migrar não foi outro senão uma anomalia. Anomalus migrantis: espécie estpupida que percorre o mundo a esmo, não foge de guerra, de violẽncia, de perseguição política... hei... será que fujo? Da pobreza, da desigualdade abissal que separa ricos e pobres no Brasil, da fome estridente que salta aos olhos e dói na alma, da estupidez das elites aristocráticas e egoístas (bom...nisso o Brasil não está sozinho), da classe média sempre-assustada-com-medo-de-perder-o-pouco-que-tem, das favelas que sobem os morros?!?!
Faz tempo que não nos vemos, Brasil.... será que você mudou algo? Será que estou sendo injusto contigo? Será que teus abraços mornos não viraram nada mais, nada menos que um toque frio "à la Alaska" de um parente distante que se ve uma vez a cada 3 anos?
Era só pra ser uma viagem. Marcar o fim de um ciclo. O fim de uma era. Alaska? Bem gostaria: ver um alce, um urso, tomar um suco de berrys com gelo da rua... férias...yasumi... pena que tá acabando.