domingo, 6 de dezembro de 2020

Quadradinhos inertes em uma vida circular

Há pouco voltava pra casa mergulhado em pensamentos bobocas, refletindo nessa coincidências da vida, as que acontecem, e mesmo nas que não existem mas que insistimos em ver (e apurrinhar os outros falando sobre): em alguns dias me torno um indivíduo de 36 anos.

36 aninhos == 6 ao quadrado.

Lembro-me dos meus 25, pensando comigo mesmo que tinha um quarto de século, enquanto caminhava pelas ruas de Botafogo a caminho de um futuro incerto que parecia se acertar aos poucos, se alinhar nas curvas e meandros das oportunidades que apareciam adiante.

Aos 16, no colégio, temendo o vestibular, o futuro, ganhando confiança aos poucos de que não havia como as coisas piorarem, me equilibrando entre breves vislumbres de um futuro em que faria algo que gostaria e a realidade árida que me cercava: em qualquer corrida nós haviamos largado todos atrasados.

Aos 9, 4, 1... esses aniversários mal me lembro, mas certeza que não foram dos melhores... fico só pensando em como é agora, essas coincidências bestas. Tenho a certeza de que aos 25, 16, etc achava que aos 36 eu estaria como um quadrado, estático no mundo, firme como uma árvore com raízes afundadas no chão, inerte e pouco mutável, vivendo e crescendo no mesmo lugar, talvez do lado de um retângulo, cercado de quadradinhos. Aconteceu da vida pedir de mim viver mais como um círculo que se move a qualquer vento que bate, que em vista de qualquer ladeira não sabe fazer outra coisa senão se guiar pela gravidade. 

Um ouroboros, de um tratado de alquimia do século XV

Um círculo, como um ouroboros que eternamente se consome, perpetuando um ciclo interminável de (re)nascimento e morte.Um círculo, que almeja ser um quadrado. 

Será que se eu fosse um quadrado um dia estarei por aqui, a reclamar da quadradice dos meus dias, a sonhar em ser um círculo de novo? 


Curioso pensar nessas analogias. Há dias li na minha agenda, 

"só vive em possibilidades aquele que sabe que o futuro não é algo certo".

Na hora não lembrava de ter escrito aquilo. Chequei a letra com cuidado pra ver se a caligrafia era minha mesmo (sem sombra de dúvidas, a "quase indecifrabilidade" do texto não me deixou dúvidas). Ainda assim olhei pros lados, debaixo da mesa, pra saber se não havia algum doende rindo de como consigo ficar confuso comigo mesmo, diantes de súbitos momentos de lucidez, como ilhas de serenidade num mar de vagas incertezas.

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