Na época havia um menino na minha sala - primeira série - que era repetente. Naturalmente, o resto da sala dele que passou pra segunda série ficava sacaneando o moleque: antes de entrarem nas salas de aula, os alunos formavam filas na quadra de esportes da escola, sempre do mais baixo para o mais alto: o indivíduo n com a mão sobre o ombro direito do indivíduo n-1, e assim sucessivamente (para n >= 2). A fila ao lado da nossa, claro, era da turma da segunda série, a maioria de antigos colegas dele. No meio da balbúrdia do momento em que o sinal tocava, sempre havia alguém gritando pra este garoto:
"- Didier, burro..."
Ele, último da fila da primeira série C ( sala da tia Lídia) baixava a cabeça.
Triste.
Fazendo beicinho.
"- Didier, burro..."
Ele, último da fila da primeira série C ( sala da tia Lídia) baixava a cabeça.
Triste.
Fazendo beicinho.
Havia algumas coisas que o faziam diferente dos outros alunos da turma: Didier era maior que as outras crianças, pois nessa época todo ano a mais de idade é convertido em alguns muitos centímetros de altura. No entanto, a diferença mais importante estava no fato dele ser o único da sala com permissão pra usar canetas: todos os outros alunos deveriam usar lápis; usar caneta era sinal de maturidade, responsabilidade.
De vez em quando a professora falava sobre como era o mundo depois que a gente começa a usar canetas pra escrever:
"- Existem cheques... e você também pode escrever telefones numa agenda... e o melhor de tudo: você escreve e ninguém pode apagar!"
E poder deixar sua marca no mundo, inapagável, inextinguível, à ferro e fogo, marcada nas páginas de algum caderno/folha/parede da sala casa, era o sonho de todos nós. Exceto o Didier, que já podia fazer isso, e às vezes até nos esnobava.
De tempos em tempos, pra corroborar com a descrição deste novo mundo (e pra evidenciar a nossa condição de semi-analfabetos =), ela pedia pro Didier fazer um relato pros colegas de turma sobre como era escrever com caneta. No alto de sua sabedoria de mais alto da turma, ele dizia:
De vez em quando a professora falava sobre como era o mundo depois que a gente começa a usar canetas pra escrever:
"- Existem cheques... e você também pode escrever telefones numa agenda... e o melhor de tudo: você escreve e ninguém pode apagar!"
E poder deixar sua marca no mundo, inapagável, inextinguível, à ferro e fogo, marcada nas páginas de algum caderno/folha/parede da sala casa, era o sonho de todos nós. Exceto o Didier, que já podia fazer isso, e às vezes até nos esnobava.
De tempos em tempos, pra corroborar com a descrição deste novo mundo (e pra evidenciar a nossa condição de semi-analfabetos =), ela pedia pro Didier fazer um relato pros colegas de turma sobre como era escrever com caneta. No alto de sua sabedoria de mais alto da turma, ele dizia:
"- É...."
[respira fundo/ suspira]
" ... é difícil, porque a caneta desliza muito."
A sala inteira ouvia em silêncio....
... e sonhava =)
Um comentário:
Antes que alguém pergunte: este post é um relato de uma história verídica.
À tempo: o Didier nunca mais foi visto (por mim, ao menos )
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