Quando vc mora sozinho você acaba desenvolvendo uns hábitos muito estranhos. No geral eles aparecem pra que vc se entretenha. Eu descobri que isso não era tão não usual depois de ler nos livros do Amir Klynk que ele também fazia isso durante suas expedições. Uma das coisas que faço, meio que por acaso, é inventar músicas sobre coisas estúpidas que acontecem. No geral o processo e composição acontece na cozinha, enquanto lavo a louça ou cozinho. Então o post de hoje é dedicado a isso: todas essas canções maravilhosas que já compuz hahaha Aqui vai uma lista de títulos:
# 1) You forgot to buy tomatoes
# 2) You have enough kiwis for the week.
# 3) Laundry, sweet laundry
Bom...melhor parar por aqui e ir curtir meu halloween =)
"Since I had nowhere permanent to stay, I had no interest whatever in keeping treasures, and since I was empty-handed, I had no fear of being robbed on the way" [Matsuo Bashô , The records of a travel-worn Satchel]
sábado, 31 de outubro de 2015
domingo, 11 de outubro de 2015
Uqeybi ( ou "a rota do indivíduo")
O título do post de hoje vem do idioma somali: uqeybi, "dividir". Termo matemático, mas que pode ser visto como "compartilhar" (ao menos em português e outras linguas latinas). Recentemente comecei a voluntariar ensinando matemática. A maioria dos que ensino são refugiados: gente que teve que sair de casa ou fugir de seu país para sobreviver. Gente que veio em busca de um lugar melhor, de um país melhor. Em busca de um lugar para chamar de casa. É impossível não me identificar com essas pessoas: desde suas condições como imigrantes até suas dificuldades em entender uma frase ou se expressarem em inglês. Muitos não sabem ler na própria lingua nativa. Olho pra minha trajetória e penso que saí do Brasil pra estudar, sem ter que fugir, sem ter que procurar refúgio algum. Me vejo como uma pessoa com sorte, mas me pergunto se isso é mesmo sorte. Do que mesmo isso se trata?
Não sei... honestamente, não sei. Paro pra pensar nessa história toda e a única coisa que sinto é que em maior ou menos grau sou também um deles.
Penso nos meus pais: uma mãe que na infância catava café, um pai que fugiu de casa aos 16 anos de idade, do interior de Pernambuco pra São Paulo. Refugiados da própria vida. Duas pessoas que tiveram que fugir para poder sobreviver e crescer. Acho incrível que duas histórias tão similares e tão extremas (ele do nordeste, ela do sul) se encontraram no meio do caminho. Me vejo e sou o fruto disso. Imigrante, eu, Eumigrante. Será que a humanidade anda em círculos e tenta reescrever sua própria história cortando e colando letras das primeiras páginas de seu livro? A mim ao menos nada de refúgio, exílio ou ostracismo (como algumas vezes me referi a isso): vivo num mar no qual remo, nado e levo adiante meu barquinho. Aonda isso vai me levar ... talvez melhor não me perguntar demais.
Deixando de lado menores/maiores digressoes: é interessante discutir matemática nesse - pra mim- novo contexto. Fico suando frio pra tentar ensinar meus alunos a aprender a subtrair 5 de 13.. incrível como me apropriei de alguns conceitos de maneira tão orgânica que ensinar vira um processo muito grande de se redescobrir e se doar. E no fim das contas entender algo que não números, mas pessoas. Acho que aí mora a maior riqueza disso tudo: dividir. A matéria prima com a qual trabalho é conhecimento, mas ninguém precisa mantê-lo em estantes cheias de livros, ou armazenado em terabytes, discos rígidos, folhas e notas. Me sinto gratificado a cada vez que vejo o esforço de mães de 40, 50 anos tentando aprender. Acima de tudo, sinto nítidamente a vontade deles em se integrarem a esse novo mundo. E mais uma vez me pego ali: me esforçando para me integrar e também ainda aprendendo matemática; em geral eu fico no meu mundo de equações diferenciais, perturbações singulares, ondas de choque e ondas de difusão... a mesma (seria outra?) matemática... um pouco mais abstrata aqui e ali, mas ainda assim a mesma arte. Me vejo então como um aluno: mesmas dúvidas, mesmos medos e angústias. Aprender e ensinar não são coisas assim tão distantes.
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
A cidade dentro da gente
A cidade é aquilo que vivemos e contruímos: palácios, prédios, pessoas e coisas. Ruínas de coisas e vidas que passam, vão e vem. Coisas que carregamos conosco e que insistem em ser levadas em toda e qualquer mala que fazemos. A ruína... que vive dentro da gente da mesma maneira que a formas ao nosso redor, se moldam e se adequam aos nossos olhos e olhar.
Mais fácil construir uma cidade a partir de escombros ou começar tudo do zero?
O contraste.... morar aqui é um evidente contraste. Uma cidade em que uma folha que cai no chão já é motivo pra alvoroço...gritaria. Que o diga uma árvore plantada a 3 metros de onde fora inicialmente pensada, um ciclista que pedala entre a calçada e a entrada de sua casa... em anticlandestineápolis tudo é motivo pra desespero e angústia de seus cidadãos, que não toleram desordem. E olha que estou há mais de 5 anos por aqui e nunca havia me deparado com uma cidade tão pouco permissiva quanto essa: um misto de cidade escandinava com casa de vó chata hahaha Me lembrou muito um poema do Leminski de quando este visitou Brasília pela primeira vez
Claro Calar sobre uma Cidade sem Ruínas (Ruinogramas)
Em Brasília, admirei.
Não a niemeyer lei,
a vida das pessoas
penetrando nos esquemas
como a tinta sangue
no mata borrão,
crescendo o vermelho gente,
entre pedra e pedra,
pela terra a dentro.
Em Brasília, admirei.
O pequeno restaurante clandestino,
criminoso por estar
fora da quadra permitida.
Sim, Brasília.
Admirei o tempo
que já cobre de anos
tuas impecáveis matemáticas.
Adeus, Cidade.
O erro, claro, não a lei.
Muito me admirastes,
muito te admirei.
Poema integrante da série Distraídos Venceremos.
A ordem tem seu preço... de qualquer forma.. oque se aprende com isso.. eu não sei...
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
Chorão
Visitei minha árvore favorita ontem de novo. Não sei ainda o por que, mas acho que me identifiquei com esse chorão ermitão à beira do lago, banhado em água, sol e visitantes esporádicos.
Ps: aparentemente não só eu tenho essa árvore por favorita; havia uma grande garça perto dela quando passei. Ela voou assustada mas assim que me afastei ela voou de volta pro chorão solitário.
domingo, 6 de setembro de 2015
sábado, 29 de agosto de 2015
Para lembrar de nunca esquecer
Hoje pedalava de volta pra casa (melhor dizendo, pro sofá de uma casa que não é a minha) quando pensei: "- caramba, essa cidade enoooorme e eu só conheço uma pessoa". Pedalei meio desligado mas com essa frase na cabela, carregando com esforço a city bike carroça à qual sou grato mas agora amaldiçoo, vento batendo no rosto, contemplando o missisipi(?) e seus remadores, suas mil e três pontes. Achei curioso pensar nisso... me lembrei de como as pessoas romanceavam a minha primeira vinda, como eu mesmo (de certa maneira) tinha meus olhos cegos a isso quando fui pro Rio e pros EUA.
Ontem voltei pra casa e queria colo. Mas o colo mais próximo - família- está a milhares de kms, a 12 horas daqui. Não, não há tempo pra isso. A gente tropeça mesmo no começo e não há muito por que ficar chorando as pitangas por aí rsrs Mas não posso esquecer de que esses momentos down acontecem mesmo; aconteceram há anos atrás e vão acontecer de novo ...e de novo... e de novo. Nunca se esqueça: as dificuldades estão espalhadas por aí não para que vc tropece nelas, não para que você passe a duvidar de si mesmo e suas capacidades, mas para que vc as supere, para que você tome-as como uma oportunidade para crescer, acrescentar .... e talvez passar a olhar o mundo com outras perspectivas.
Nessa noite de 28 de Agosto, Rafaello, o explorador destemido, vai dormir no sofá.
Na cabeça: idéias; umas grandes, outras pequenas e muitas delas vagas.
Em seus sonhos: uma casa, e uma cama.
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
Devaneio onírico marxista-carioca #1
Hoje tive um sonho "horrível". Sonhei que entrava numa festa que minha ex dava em sua casa e que eu a procurava pra me dizer presente/dar oi. Vejo uma versão dela menor e mais nova que só poderia ser uma prima ou uma filha (filha não, pq ela não teria uma daquele tamanho); sigo adiante, procurando-a. A encontro, ela está linda. Dou um abraço nela. Quando o abraço termina estou abraçando um velho barbudo que parece o Karl Marx. Acordo.
A arte de se começar do zero (de novo)
Enfim... aqui estou: cidade nova, busca por apartamento, casa. Por enquanto eu tenho vivido num sofá... não muito confortável, mas... vive-se com oque se tem, não? Isos me traz à lembrança meus primeiros dias de rio. Época de muito cd e não muito mp3: me lembro que uma das únicas coisas que trazia na mala era um cd, charles mingus - oh yeah
e um cd do Dave Matthews band que de vez em quando tocava umas músicas super melancólicas que me faziam morrer de saudade de São Paulo. Até hoje associo DM com esses dias de ruptura e saída de casa. Não me traz uma sensação muito boa (incrível como a gente pode associar sons com sentimentos, não?) Depois de uns dias eu já não tinha mais paciência pra ouvir Charles Mingus ou fibra pra ouvir DM sem ficar com vontade de cair no choro. Fiquei ambos homeless e soundtrackless hahaha Rafaello, sozinho no Rio de Janeiro, desolado :'(
Curiosamente, foi uma fase em que desenvolvi temporariamente o hábito de olhar pras janelas dos prédios e, ao invés de reparar em seus traços e arquitetura, me perguntar quem eram as pessoas que ali moravam e como haviam conseguido aqueles apts. Durou um tempo, até eu encontrar uma casa "de verdade" (mais ou menos: era um quarto numa casa com gente estranha - um professor de yoga, uma menina porquinha que estudava história e deixava a louça na pia por 1 semana afff... tristeza). Às vezes me pergunto oque foi que me levou a abandonar momentos de conforto pra me jogar no desconhecido. Porque sair de SP pra ir pro RJ se em sampa estava bem? Por que largar o RJ para ir pros EUA se já estava encaminhado no RJ, já havia começado o doutorado, tinha amigos, vida etc? Por que não voltar ao Brasil quando pude e decidi vir a Minneapolis? Meu histórico pode dar a entender que sou uma vítima da minha impulsividade rsrs mas não é o caso: acredito que o que me moveu foi procurar o que achava melhor pra mim. Muitas vezes me enganei: enquanto no Rio pensei por diversas vezes em voltar a São Paulo, enquanto nos Eua pensei por diversas vezes em voltar ao Brasil... e hoje, dia de chuva, homeless, documentos preenchidos erradamente-e-que-só-fazem-me-dar-dor-de-cabeça... penso em voltar.. mas pra onde? Acho que o que procuro é um abrigo, colo: nem todo dia é dia de ser super-homem (como diz uma grande amiga minha que já morou em diversos países pelo mundo)...
Estou cansado. Não ter casa é uma das piores sensações do mundo. Não ter seu lugar, não ter seu canto... há 7 anos (uau.. faz tempo mesmo que me "migrei" pro rio) não me deparava com isso: um quê de temporário que tem que deixar de ser temporário mas pode ser um temporário longo... vixe... nem sei se isso fez sentido hahaha mas que seja, um temporário que não gosta de ser temporário mas que por inércia, temporário fica/é. Lá vou eu pra mais uma tentativa de encontrar uma casa, janelas altas e larga + muita luz em algum apartamento dessa cidade. Espero que saia do papel hoje ou em breve.
[torçam por mim, leitores, crawlers, desavisados que por aqui pisarem]
ps: uma das músicas do DM meio corta-pulsos que estava no cd do qual falei é essa
Até hoje não consigo ouvir a música toda sem que um monte de sentimentos incômodos venham à tona dentro de mim. Ouça com moderação e pressione pause caso a coisa saia de controle =P
sexta-feira, 14 de agosto de 2015
Homeless
Só pra registrar meu cansaço depois de um longo dia procurando casa. Não sei como ainda não fizeram um site pra procurar o apê dos sonhos. Tem tanto site de namoro, procurar casamento, pq não um com "procuro apartamento, não muito grande nem muito apertado, com janelas grandes, iluminado, com vista pra copa de árvores... " e rolassem um "matches": o apartamento da rua A gostou de vc! Algo assim.
No mais: a cidade nova é linda, mas mal consigo aproveitar enquanto não tiver uma casa :|
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