"Since I had nowhere permanent to stay, I had no interest whatever in keeping treasures, and since I was empty-handed, I had no fear of being robbed on the way" [Matsuo Bashô , The records of a travel-worn Satchel]
sábado, 19 de agosto de 2017
Direto da Terra do Sol Nascente, #2: chegando em casa
Depois de um longo dia,
um homem volta pra casa com a cabeça cheia de idéias
[me perdôem pelo rosa no topo... é parte de um outro desenho e culpa de um sketch book pequeno rsrss ]
sexta-feira, 11 de agosto de 2017
Direto da Terra do Sol Nascente, #0: diálogo entre dois mundos
Pra registrar o respeito com o qual os japoneses lidam com os estrangeiros: cheguei na alfândega e o policial, não sabendo falar inglês, apontou pra um livrinho no qual dizia
"os cães farejadores detectaram algo na tua mala. Por favor nos siga pra uma inspeção mais detalhada"
E lá fui eu, calmo (já aconteceu isso antes comigo, já não me preocupo mais). Aí lá vai, 6 policiais pra ver a minha mala. Um deles me perguntando num inglês truncado, qual era minha especialidade. Falei que vinha dos EUA, onde morei nos últimos 7 anos. Mais perguntas, falei que era matemático. Todos eles ficaram curiosos.
No meio tempo, aquele samba: tira coisa da mala, japoneses vendo todas as minhas roupas de baixo, sapatos, goiabadas vindas do Brasil etc Até que, quando tudo havia sido checado e escaneado, eles viram pra mim e pedem desculpa pelo transtorno. Pergunto se posso ajudá-los a colocar as coisas na mala, ao que eles respondem afirmaticvamente. Não sem antes abrirem um dos livros de matemática que estava na mala e se debruçarem encantados com as fórmulas e desigualdades. A única coisa que entendia nessa hora eram expressões vagas como
"seno" (japonês ininteligível) "cosseno"
Um diálogo entre dois mundos, que transcende a língua: eu, vindo cheio de números, pra conversar numa linguagem universal com outros daqui. Achei o momento incrivelmente único e bonito.
Ainda sem entender muito, aponto pras minhas outras malas. Eles me respondem, afrimativamente com a cabeça (típico dos japoneses). "no no"... era só aquela a mala que queriam fiscalizar.
E assim começou a jornada por aqui (esse era pra ter sido o primeiro post, dáí o número 0)
"os cães farejadores detectaram algo na tua mala. Por favor nos siga pra uma inspeção mais detalhada"
E lá fui eu, calmo (já aconteceu isso antes comigo, já não me preocupo mais). Aí lá vai, 6 policiais pra ver a minha mala. Um deles me perguntando num inglês truncado, qual era minha especialidade. Falei que vinha dos EUA, onde morei nos últimos 7 anos. Mais perguntas, falei que era matemático. Todos eles ficaram curiosos.
No meio tempo, aquele samba: tira coisa da mala, japoneses vendo todas as minhas roupas de baixo, sapatos, goiabadas vindas do Brasil etc Até que, quando tudo havia sido checado e escaneado, eles viram pra mim e pedem desculpa pelo transtorno. Pergunto se posso ajudá-los a colocar as coisas na mala, ao que eles respondem afirmaticvamente. Não sem antes abrirem um dos livros de matemática que estava na mala e se debruçarem encantados com as fórmulas e desigualdades. A única coisa que entendia nessa hora eram expressões vagas como
"seno" (japonês ininteligível) "cosseno"
Um diálogo entre dois mundos, que transcende a língua: eu, vindo cheio de números, pra conversar numa linguagem universal com outros daqui. Achei o momento incrivelmente único e bonito.
Ainda sem entender muito, aponto pras minhas outras malas. Eles me respondem, afrimativamente com a cabeça (típico dos japoneses). "no no"... era só aquela a mala que queriam fiscalizar.
E assim começou a jornada por aqui (esse era pra ter sido o primeiro post, dáí o número 0)
quarta-feira, 9 de agosto de 2017
Direto da Terra do Sol Nascente, #1: primeiro homem na lua
Há menos de uma semana aqui, meu colega de trabalho, japonês, engenheiro, me conta que queria ser astronauta. Me conta das provas, da dificuldade, dos milhares de concorrentes. Me conta tímido do único japonês que foi à ISS (estação espacial internacional)
E penso em mim, dias pós chegada, aquela sensação de primeiro homem na lua. A mesma sensação que senti quando cheguei nos EUA, ou na Alemanha.
Ás vezes alguém se lembra que estou aqui. Mensagem na garrafa que fisgo ao mar, que viaja entre a noite e o dia desses dois mundos, cá e lá.
Ásiamérica
Américásia
" A rotina vai te ajudar a se sentir mais em casa", vários amigos dizem.
E assim tem sido, apesar de vir de quando em vez aquela asfixiante vontade de procurar colo, de querer casa .... quando bate aquela realidade, aquele momento em que você percebe que casa é aquilo que você tem carregado consigo.
Respiro fundo... e bato cartão pra mais um dia dessa jornada.
E penso em mim, dias pós chegada, aquela sensação de primeiro homem na lua. A mesma sensação que senti quando cheguei nos EUA, ou na Alemanha.
Ás vezes alguém se lembra que estou aqui. Mensagem na garrafa que fisgo ao mar, que viaja entre a noite e o dia desses dois mundos, cá e lá.
Ásiamérica
Américásia
" A rotina vai te ajudar a se sentir mais em casa", vários amigos dizem.
E assim tem sido, apesar de vir de quando em vez aquela asfixiante vontade de procurar colo, de querer casa .... quando bate aquela realidade, aquele momento em que você percebe que casa é aquilo que você tem carregado consigo.
Respiro fundo... e bato cartão pra mais um dia dessa jornada.
quinta-feira, 3 de agosto de 2017
A meio caminho
A meio caminho com destino ao Japão, na Coréia do Sul, tento desvendar onde é o Norte. E avistar qualquer sinal do regime norte coreano: uma bandeira, um susurro, um míssel balístico intercontinental, um poster...
Mas só vejo montanhas
E aguardo, o vôo que me levará ao meu destino, meus próximos meses, meu próximo passo.
Assim, sento, escrevo, e espero.
Mas só vejo montanhas
E aguardo, o vôo que me levará ao meu destino, meus próximos meses, meu próximo passo.
Assim, sento, escrevo, e espero.
segunda-feira, 24 de julho de 2017
Todo tempo do mundo (versão paulista)
Em São Paulo
Meu esforço desmesurado em tentar passar tempo debaixo da sombra da árvore materna
A consciência clara de que o tempo passou
e tem passado.
Ampulheta de minutos,
segundos,
instantes
Folhas levadas pelo vento leve,
frutos não muitos,
pouco doces
Flores que caem sem que eu veja,
mas que sempre estão lá pra florir meu verão
e colorir o chão nos quais meus pés brincam no inverno
Carrego comigo todo o tempo
A vontade de voltar
Seria pra ficar perto daqueles que amo?
O tchau que ficou no Rio,
daqueles que se despedem pra povoar novos mundos
Os tchaus que recebo em São Paulo,
daqueles que me esperam de braços abertos
A saudade
terça-feira, 18 de julho de 2017
Todo tempo do mundo (versão carioca)
A primeira veio me contar dos sonhos não finalizados,
filmes para se rodar enquanto a chuva cai lá for.
A segunda casou e veio me mostrar a aliança,
vida que vai pra longe,
incerteza que não mais caminha descalça
Aquele outro me veio chorar pitangas,
que degustei junto, sob sombra e cevada
mas deixei os caroços ali, para que outras pitangueiras crescessem
A última, abraço rápido de corre-corre que não deixa sobrar tempo.
Ficar doente e de manha no último minuto.
Querer ficar e ter que ir. Saudade.
sábado, 17 de junho de 2017
domingo, 11 de junho de 2017
A arte de se receber e de se dar (ou "A supresa")
Li por esses dias uma estorinha "Frog and Toad", de um canadense chamado Alfred Loebel, que aqui descrevo (em minhas palavras). As personagens principais são dois sapos, super amigos; convenientemente um se chama Frog e outro Toad hehe :)
Num dia de outono Frog acorda e olha pela janela: há folhas tomando o quintal inteiro. Ele pensa no amigo Toad e diz pra si mesmo:
-Vou fazer uma surpresa pro Toad: vou varrer seu quintal escondido.
Frog pega seu arado e sai escondido pela floresta pra ir até a casa do Toad.
Na mesma manhã, Toad acorda e olha pela janela. Folhas e mais folhas. Ele pensa no amigo Frog e diz a si mesmo:
- Que surpresa Frog teria se ele acordasse pela manhã e não tivesse folhas pra varrer.
Ele pega seu arado e sai escondido pelo pasto em direção à casa de Frog.
Ambos chegam nos respectivos destinos e descobrem que estão sozinhos. Rapidamente começam a varrer as folhas, e depois de muito trabalho as têm empilhadas num canto.
- Que surpresa Toad vai ter quando voltar pra casa, diz Frog a si mesmo.
- Ahhh gostaria de ver o sorriso de Frog ao se deparar com seu quintal limpo, diz Toad.
Serviço feito, ambos pegam o caminho de casa.
Já no meio do caminho, nenhum dos dois percebe o forte vento que bateu e desfez as pilhas de folhas que ambos haviam feito. Os quintais que haviam varrido estão, de novo, uma bagunça!!
Toad chega em casa e olha pro seu quintal todo cheio de folhas:
- Amanhã eu me preocupo com isso... ao menos Frog não terá esse problema.
Quase ao mesmo tempo, Frog chega em casa e vê o quintal tomado por folhas.
- Depois dessa trabalhão na casa do Toad eu vou deixar meu quintal pra amanhã. Ao menos fico feliz em imaginar a cara do Frog ao se deparar com seu quintal limpo.
Essa noite, Toad em Frog dormem tranquilos e satisfeitos imaginando a felicidade um do outro diante das surpresas que se fizeram.
Num dia de outono Frog acorda e olha pela janela: há folhas tomando o quintal inteiro. Ele pensa no amigo Toad e diz pra si mesmo:
-Vou fazer uma surpresa pro Toad: vou varrer seu quintal escondido.
Frog pega seu arado e sai escondido pela floresta pra ir até a casa do Toad.
Na mesma manhã, Toad acorda e olha pela janela. Folhas e mais folhas. Ele pensa no amigo Frog e diz a si mesmo:
- Que surpresa Frog teria se ele acordasse pela manhã e não tivesse folhas pra varrer.
Ele pega seu arado e sai escondido pelo pasto em direção à casa de Frog.
Ambos chegam nos respectivos destinos e descobrem que estão sozinhos. Rapidamente começam a varrer as folhas, e depois de muito trabalho as têm empilhadas num canto.
- Que surpresa Toad vai ter quando voltar pra casa, diz Frog a si mesmo.
- Ahhh gostaria de ver o sorriso de Frog ao se deparar com seu quintal limpo, diz Toad.
Serviço feito, ambos pegam o caminho de casa.
Já no meio do caminho, nenhum dos dois percebe o forte vento que bateu e desfez as pilhas de folhas que ambos haviam feito. Os quintais que haviam varrido estão, de novo, uma bagunça!!
Toad chega em casa e olha pro seu quintal todo cheio de folhas:
- Amanhã eu me preocupo com isso... ao menos Frog não terá esse problema.
Quase ao mesmo tempo, Frog chega em casa e vê o quintal tomado por folhas.
- Depois dessa trabalhão na casa do Toad eu vou deixar meu quintal pra amanhã. Ao menos fico feliz em imaginar a cara do Frog ao se deparar com seu quintal limpo.
Essa noite, Toad em Frog dormem tranquilos e satisfeitos imaginando a felicidade um do outro diante das surpresas que se fizeram.
segunda-feira, 5 de junho de 2017
Despedindo-me #2: zoombies
Ontem deu uma crise: bateu um
"wtf, oque estou fazendo da minha vida!!"
Corri pra pensar num plano B, liguei o Jorge Ben - Tábua da esmeralda.
Acalma
Respira
Pensei nos um milhão de micro detalhes pré mudança.. e me pareceram muitos. Micro surto com muita angústia e pesar. O ouvido dói, o peito dói... Aí ouvi "Zumbi"
"wtf, oque estou fazendo da minha vida!!"
Corri pra pensar num plano B, liguei o Jorge Ben - Tábua da esmeralda.
Acalma
Respira
Pensei nos um milhão de micro detalhes pré mudança.. e me pareceram muitos. Micro surto com muita angústia e pesar. O ouvido dói, o peito dói... Aí ouvi "Zumbi"
...e fiquei pensando em como essa música fala sobre esse processo de mudança, de desapego/parto: uma princesa, que muda de país pra ser uma escrava. O contraste, das mãos negras pegando o algodão branco etc. Fiquei pensando na minha situação... e imaginei oq seria pra tal princesa ser destituída de sua realeza, seus súditos ainda sendo súditos mesmo depois do cárcere? Que loucura. Pensei em mim, no mundo que atravesso, na realeza que não levo comigo, o novo mundo que hei de desbravar.
Tá chegando a hora!! :) Diante do medo, no geral ainda me mantenho um pouco calmo.
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