domingo, 30 de outubro de 2022

O final de semana mais sombrio

Depois de uma semana difícil, cheio de violências e um primeiro turno no qual eu ainda  acreditava que os brasileiros nunca mais seriam coniventes com a barbárie que estes últimos 4 anos viram, lá vamos nós: hoje é dia de eleição. 

Estranho demais estar aqui e ver essas pessoas nas ruas com a camiseta da seleção de futebol brasileira (hoje em dia, o símbolo das pessoas que votam  na extrema direita). Oque será que essas pessoas vêem que eu não vejo? Oque elas estão dispostas a comprometer para que possam votar em um cara tão indigno e incompetente quanto o Bolsonaro? Fosse esta uma eleição entre todos os outros candidatos, eu acho que estaríamos ok. Mas justo ele? 

A extrema direita me estarrece e surpreende pela sua destreza em conseguer extrair oque as pessoas têm de mais primitivo: as respostas impulsivas, a desumanização daqueles que divergem em opinião, a falta de projetos claros, o excesso de pautas morais, a maneira esguia pela qual conseguem fugir de qualquer responsabilidade gerencial que têm. É uma tristeza estar aqui no Brasil e assistir esse teatro enquanto sentado no picadeiro.... por que sim, é uma grande palhaçada.

Hoje é domingo e acabo de descobrir que peguei covid. Mas estou bem, ou oque é que isso signifique. Fui votar pedalando: está um dia lindo lá fora. Quero sair, mas quero me refugiar desse mundo de balbúrdia e incompreensão em que vivemos. Quero descansar.. quero poder virar as costas e dizer que esse problema não é mais meu como, de alguma maneira, fiz por uns bons anos.

Agora não.

Agora estou perto. Vejo as entranhas do país mais de perto e como este sofre e se debate em tremores, frágil. Me pergunto oque posso fazer. Será que algo? Só esperar? 

Tenho dito a amigos que apesar de ter ojeriza à extrema direita, ela nos ensina muitas coisas. Por exemplo: o nível de engajamento e participação deles é muito grande. Claro que isso não vem de graça: há o apoio incondicional, os questionamentos jogados pra debaixo do tapete, a corrupção da qual ninguém fala (ou, em muitos casos, pode falar). Bom...talvez retire oque escrevi acima... por que não dá pra dissociar uma coisa (boa) da grande maioria daquilo que a extrema direita representa (algo ruim).

Fico me perguntando oque o amanhã há de nos trazer.. será, mais 4 anos? Me pergunto se ver isso lá de fora seria mais fácil.... ou se me deixaria igualmente angustiado. Páro e me lembro do dia em que soube que Trump ganhou enquanto nos eua: "Trump triumphs", dizia o new york times... fiquei com uma ressaca gigantesca. 

O Brasil, em 2018, não chego a mim. Claro, fiquei triste, mas... de certa forma já imaginava que o elegeriam: o Brasil, país da novela, adora algo desconhecido, uma trama (olha a facada!), alguém que se clame fora do sistema para salvar a pátria. É um povo que não se baseia em métrica alguma pra tomar decisões (well... sendo honesto, que povo é?) Mas agora, depois de 4 anos de desarranjos e desgovernos, quem, em sã consciência, ainda votaria num cara assim? Sei lá se é a covid que me derruba e deixa prostrado, mas acho que não, é a política mesmo: difícil engolir. 

Nessas horas eu me pergunto, mais do que se vai  ser aqui mesmo que eu vou ficar, se há algum lugar no mundo onde se esconder. Não há! Tá tudo muito parecido. E OK, ressalvas sejam feitas: a qualidade de vida em vários lugares onde morei é muuuuuito melhor que em São Paulo. Em sendo assim, que diferença faz passar por isso longe, ou perto? 

Não sei...voltar foi difícil, mas me parece fazer muito sentido. Por que não é algo que se vê por uma única perspevctiva, mas sim diversas delas ao mesmo tempo. Somente quando estamos satisfeitos com nós mesmos  só sei que está sendo uma delícia estar aqui, ter contato com o melhor que o Brasil pode me dar, me perder diante de tantas possibilidades, não entender as piadas que se referem a coisas que perdi enquanto não estava aqui, ter dificuldade para entender memes, poder abraçar as pessoas, pegar covid, votar pra tentar tirar esses extremistas fdp do poder etc. O Brasil e suas mazelas, às vezes um gosto amargo, noutros momentos um gosto agridoce... isso que nem falei que aqui é a terra do bolo de rolo... 

... ai Brasil.... olho pra você, olho pros EUA e sua bagunça, olho pro Japão e sua apatia, a Europa com sua xenofobia... e fico confuso... vai ver o melhor é ficar parado e tentar mudar oque puder por aqui mesmo. 


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Relações e bolhas familiares

Uma das coisas mais interessantes de se relacionar é descobrir como outras pessoas vivem, como elas gastam seus tempos, como elas passam seus dias. Que delícia, ver como alguém mora: toda pessoa é um universo! 

Quando essa mundo superficial de primeiras impressões fica pra trás e chegamos à profundidade do relacionamento - daqueles onde se frequentam casas, conhecem tios, tias e afins -  aí adentramos num mundo novo e, de certa forma, numa nova família, regidas por regras e interações muitas vezes inimaginadas. Acima de tudo, é comum a relação vir com agregados, precisamente, mães, pais, irmãos, cachorros etc. Não existe amor no vácuo, a Física dos relacionamentos poderia nos dizer com suas leis. E, de fato, a prática (experimental) mostra isso.

É curioso observar que cada família tem suas regras...como num microcosmos antes nunca estudado, olhamos pra um mundo que se abre em contraste com o que trazemos na nossa bagagem: nossas famílias e seus elos também são um universo estrangeiro para os que vêm de fora. 

E dessas explorações, oque podemos tirar? Talvez muito, talvez nada. Claro, uma mordida de cobra, uma jaca que cai de uma árvore ao nosso lado e nos assusta, uma gruta escura onde nunca se vai, os cantos silenciosos. Todo um mundo de novidades nos cerca, nos enche de sons e texturas, regras e sabores até então desconhecidos. Nos percebemos cercados, preenchidos por tantas coisas intangíveis que tentamos tocar, entender pelos nossos olhos e pelos olhos dos nosso parceiros. Até descobrirmos que, no fim das contas, esse universo nunca será realmente o da relação, pois esta ficará sempre numa bolha, a bolha na qual toda relação deve ficar. 

Talvez isso seja importante: pra preservar e blindar um novo mundo que nasce de outros mundos já sólidos e de raízes profundas que são as famílias, cheias de vínculos, vícios e virtudes que a que regamos também há de ter. 

Mas será que essa bolha estoura?


segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Rotina #1

Desde que voltei pro Brasil  a vida parece carecer algo. Alright, sei que um punhado de mudanças se apinham - casa nova, país novo, cidade nova, namoro (yeap, believe it or not)... mas nada me aflige mais do que a falta de rotina. Pqp... eu sou um escravo dela. 

Interessante, por que precisamos disso: para termos a ilusão;impressão de que controlamos algo? Ou para não percebermos como o tempo passa rápido? Um dia li que o cérebro percebe melhor a mudança do tempo quando vivemos mudanças: casamentos, mudanças de cidade, de emprego, de país, de romances. Curiosamente, anos de mesmice e rotina podem passar como se fossem meses. 

Então, porque busco a rotina? Por que pareço encontrar um alento nela? Talvez para não cair vítima da imprevisibilidade dos dias que se acumulam sem ordem, despropositados, sem sentido, sem se encadearem num enredo que aponte pra lugar nenhum. Curioso que por estes dias veio um entregador aqui em casa, de bike, e no pacote que me entregou estava escrito  um recado da pessoa que me enviara o pacote: "direção é mais importante que velocidade".  Vai ver, no fim das contas, quando estruturamos as coisas diminuímos essa velocidade frenética com que elas se sucedem pra, enfim, conseguirmos no aperceber da direção que as memas tomam. 

Não sei... só sei que tem sido assim (parodiando o bom e velho Chicó, do Auto da Compadecida). Mas enfim, depois escrevo mais sobre este tema.

[Continua]