quinta-feira, 10 de março de 2022

Direto da Terra do Sol Nascente #120: it's all over now...

 Isso, gente: acabou. 

Bom, não acabou ainda, mas ao menos já sei quando acaba. 

Passagem comprada pra ir embora, já vejo a casa se esvaziando aos poucos: um móvel doado aqui, outro vendido ali. Tranqueiras e mais tranqueiras que se desfazem porta afora mas que, infelizmente, não evaporam.

Havia pensado há algumas semanas em não escrever mais. Sei lá... parece que passou já. Na verdade fiquei pensando na efemeridade dessas redes, desses meios de comunicação. Lembra do Orkut, por exemplo? Pqp... o orkut foi o prenúncio do blog, e estes do jornal impresso (que, sabe alguém, ainda existe?).

Olha, já estou fugindo do assunto... mas já volto a ele: isso, pessoal, tô indo embora. Na verdade é isso que me fez mudar de idéia. Queria ainda poder parar e descrever um pouco desse processo: do que faz sentido, do que não faz sentido algum, e do pouco que consigo depreender dessa transição.

Uma coisa é certa: estou indo bem depois do que imaginava. 

Outra coisa é certa: ter vindo pra cá foi uma grande mudança na minha vida. 

Agora, além de tudo isso.... não tenho mais certeza de nada. 

Bom...sem dúvidas a partir daqui terei uma outra vida. Agora, como vai ser? Melhor.. pior?... Acredito que melhor, mas muito, muito diferente da de agora. Me dá um certo friozinho na barriga em pensar nesse desconhecido, mas ao mesmo tempo fico curioso e ansioso (de maneira positiva) pra ver como vou me vira em novos contextos. Por que é fato: a vida é curta, e passá-la fazendo o tempo todo a mesma coisa não vale a pena. E, admito, já passei muitos anos da minha fazendo quase a mesma coisa (well... praticamente mudei de "área" de trabalho 3 vezes, mas não deixa de ser uma mesmice). 

Aí eu volto pro título (roubado de uma música do Dylan do amazing "bring it all back home", lindamente adaptada pra português pelo Caetano). Reflito sobre esse intervalo enorme de tempo pra "tentar colocar a vida em ordem", em contraste com as vidas de todas aquelas pessoas de Kabul, penduradas em aviões em desespero para ir embora dali o mais rapidamente possível, ou essas pessoas da Ucrânia, forçadas a sair de onde vivem por conta de uma invasão estúpida de um tirano com arroubos de grandeza "soviéticos".

Sou, acima de tudo, um privilegiado.

Mesmo assim, "it is not all over yet... not at all". Olho pra essas "stepping stones left behind", para tudo oque tive aqui e só posso ser grato a tudo. Me parece uma obrigação, enquanto diante de tanta incerteza, me erguer e seguir de cabeça erguida, seja lá oque me espera. E desses dias, simplesmente aprender que, acima de tudo, não devo me apegar a qualquer certeza que a vida parece dar. Isso porque, no fim das contas, tudo passa, tudo é transiente, e só os sorrisos que demos, as risadas, as coisas que aprendemos, podem ser transportadas pra'qui-e-ali, por mais de mãos vazias que andemos pelo mundo. 

Parece niilismo da minha parte, mas acredito que seja somente lucidez e serenidade. No fim das contas, talvez seja a melhor maneira de se seguir adiante.




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