segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Direto da Terra do Sol Nascente, #10: "Monstros japoneses"


Inocente, chego na reunião de boas vindas. Os colegas japoneses aguardam, junto daqueles docinhos igualmente japoneses: o doce de feijão, o peixe com cheiro duvidoso e textura ainda mais duvidosa, o feijão mofado que deve ser cutucado e mexido com um hachi (palitinhos japoneses pra comida) até borbulhar+ o hachi grudado até não poder mais+ gosminha grudenta que agarraria mais que amor shakespeareano+ fiozinho de baba estica-puxa mais que chiclete.

Respiro ofegante, hesito. Fica claro: você carrega o peso da sua ocidentalidade, do espectro limitado que tua cultura te ofereceu: gostos, texturas, formas, cheiros... "há um mundo lá fora de coisas comestíveis te aguardando, seu ocidental tacanho".

Culturaustrofóbico, penso em voltar pra casa em busca  de me recompor. Saio da reunião mordendo paredes e portas, lambendo vidraças e bules, cutucando a folha das árvores, empinando o nariz pra aproximá-lo das nuvens numa tentativa de sentir seu cheiro...

Abro a boca pro céu e espero mais uma gota de distância cultural cair, infinita, e me descer pela garganta.

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