quarta-feira, 8 de junho de 2011

Cogumelos na cidade: finalmente,a origem do nome do blog - última parte

     
Bom, pessoal... hoje acaba a história do Marcovaldo (continuando este post) ; este é só o primeiro conto do livro...recomendo o livro inteiro, que é muito bom. O conto é todo cheio de imagens, de personagens que são bem presentes no nosso dia-a-dia: o cara com espírito fflch, o varredor, o próprio Marcovaldo... espero que vocês tenham curtido.
     Era sábado; e Marcovaldo passou a parte do dia dando voltas com ar distraído perto do canteiro, controlando de longe o varredor e os cogumelos, e calculando quanto tempos seria necessário para que crescessem.
     Choveu à noite: como os camponeses que, depois de meses de seca,acordam e pulam de alegria ao rumor das primeiras gotas, Marcovaldo, o único em toda a cidade , sentou-se na cama, chamou a família.
     - Chove, chove! - e respirou o cheiro de poeira molhada e mofo fresco que vinha da rua.         
     Ao amanhecer -era domingo - , com as crianças e um cesto emprestado, saiu correndo para o canteiro. Os cogumelos estavam lá, empinados em seus talos, com os chapéus altos sobre a terra ainda encharcada. " Viva!", e começaram a colhê-los.
      - Papai! Veja aquele senhor ali, quantos ele apanhou!  - disse Michelino, e o pai, erguendo a cabeça, viu, em pé ao lado deles, Amadigi também com um cesto cheio de cogumelos debaixo do braço.
     - Ah, vocês também estão colhendo? - falou o varredor. -Quer dizer que são bons pra comer? Catei um pouco, mas não sabia se dava pra confiar.... Na avenida, ali na frente, nasceram maiores ainda...Bem, agora que já sei,aviso aos meus parentes que estão lá discutindo se convém colhê-los ou deixá-los... - E se afastou com largas passadas.
     Marcovaldo perdeu a fala:cogumelos ainda maiorores, em que ele não reparara, uma colheita inesperada, que lhe era arrancada assim sem mais nem menos, debaixo do seu nariz. Permaneceu um momento quase petrificado pela raiva, pela fúria, depois - como às vezes acontece - o refreamento daquelas paixões individuais se transformou num impulso generoso. Àquela hora, muita gente estava esperando o bonde, com o guarda chuva pendurado no braço, pois o tempo continuava úmido e incerto.
     - Ei,vocês aí! Querem preparar uma fritada de cogumelos hoje ànoite? - gritou Marcovaldo ao grupo que se amontoava na parada. - Cresceram cogumelos aqui na rua! Venham comigo! Tem pra todo mundo! - E saiu na cola de Amadigi, seguido por uma comitiva.
ainda encontraram cogumelos para todos e, na falta de cestos,usaram os guarda-chuvas abertos. Alguém comentou: " Seria bom almoçarmos todos juntos!" Mas cada um pegou a sua parte e foi pra casa.
     Porém não demoraram a se reencontrar, ou melhor, foi na mesma noite, no mesmo setor do hospital, depois da lavagem estomacal que os salvou do envenenamento: nada de grave, porque a quantidade de cogumelos que cada um ingeriu foi bem pouca.
     Marcovaldo e Amadigi estavam em camas vizinhas e se olharam enviesado.

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