Italianos dizem ter encontrado tropas de Cambises II, sepultadas no deserto do Sara há 25 séculos. Egipto diz que o achado é falso
O anúncio da descoberta de um exército composto por 50 mil homens que foram engolidos vivos por uma tempestade de areia, no deserto do Sara do Egipto, há 25 séculos, está a gerar polémica. De um lado, os arqueólogos italianos anunciaram que encontraram pontas de flecha, braceletes e pendentes que pertenceriam ao exército do rei persa Cambises II. Mas Zahi Hawass, chefe da arqueologia egípcia, qualificou esta descoberta de "infundada e enganosa", acrescentando que os italianos não tinham tido permissão para escavar.
Os indícios são poucos e questionáveis e a descoberta dos objectos persas - se for realmente este o caso - não prova por si só que tenham pertencido ao exército perdido: os persas dominaram o Egipto durante mais de século, realizando diversas expedições até à zona onde foram encontradas as peças.
Mas os irmãos Angelo e Alfredo Cartiglioni, que lideram a expedição, argumentam com o facto de estas peças terem sido descobertas num refúgio natural na rota indicada pelo historiador Heródoto, que o exército teria seguido: partiram de Tebas pelos oásis em direcção ao Norte. Depois viraram para Oeste, para surpreender os Amónios, até à meseta de Gilf Kebir, onde teriam sido enterrados por uma tempestade de areia.
[O globo - 28 de novembro de 2009]
No começo eu achei que fossem devaneios do meu avô, senilidade mesmo... nem comentava com a minha mãe para não chateá-la. A loucura, quando bate à sua porta, é deprimente. Mas ter confirmado esta hitória foi, para mim, um choque.
Meu avô sempre dizia que quando era criança havia um governante que tivera grandes idéias, que manteriam o seu nome na eternidade. Para isso ele sempre tentava criar coisas enormes, grandiosas, como uma torre gigante feita em madeira e gelo, ou um carrossel todinho esculpido em marfim. Como nada disso foi o bastante, e mesmo as pessoas ja pensavam em ignorá-lo, imaginando logo quem o sucederia no trono, ele começou a parar de pensar nos seus súditos e passou a planejar coisas mais além. Começou por pagar escritores para que estes relatassem fatos que, na verdade, não haviam acontecido: guerras que ganhara, reis que decapitara, e outras coisas do tipo. Ante ao questionamento que isso haveria de causar e das piadas de butiquins que já lhe rolavam pelo reino, ele pensou em não misturar mais os outros nas suas histórias e glórias...haveria de ser só ele, ele e seu povo persa, a triunfar.
Partindo dessa idéia, ele resolver então inventar pontes sobre rios que nunca foram construídas e jogar escombros no fundo d'água, criar pirâmides que nunca foram erguidas, mas cujos destroços (que nada mais eram do que escombros de uma pedreira que havia ali perto do seu palácio) se faziam ver ali, no meio da cidade, atrapalhando o tráfego de carroças e o fluxo de pessoas.
Tudo isso, no entanto, não era o bastatnte para que seu nome ficasse na história e seu povo parasse de rir dele pelas costas. Ele precisava ousar, precisava criar, algo diferente de qualquer coisa que já havia sido feita.... ele teve então ua idéia: começou a convocar homens, velhos, e reivindicar os cavalos que haviam na cidade para irem a uma guerra que ninguém sabia onde seria, como seria ou por que acontecia. Desta vez com uma grande peculiaridade: a de se passar pelo deserto para se chegar ao caminho alcançado. Obviamente, passar pelo deserto era das coisas menos sábias a se fazer, mas como as imagens valem mais do que desenhos, num rabisco de papiro, com um mapa imaginário, cambises convenceu a todos: era um grande sábio. Mais do que sábio: era um político. talvez pior do que os que existem hoje.
Com esse rascunho, Cambises conseguiria levar homens, animais e..é, homens e animais, para o meio do nada, onde uma tempestade de areia os engoliria. Não fossem alguns boatos que anteviam os planos do rei. Conversas de bar aqui, rumores num jornal da oposição de lá.... meu avô ficava até emocionado nesta parte , pois ele jura que estava la grande praça, em frente ao palácio real, quando várias pessoas, soldados e seus familiares, se reuniram ali, clamando pelas vidas do que iam e implorando para que aquele sacrifício não saísse do papel. Tá certo que não se trata bem de sair do papelo mesmo, pois o rei não havia discutido isso com ninguém. Era mais um pedido para que aquele pensamento sombrio se esvaísse, se apagasse da mente majestosa do rei majestade Cambises II.
O rei, dentro do seu palácio, mas fora dele, o barulho das mulheres chorando, do farfalhar das vestes dos soldados sendo abraçados por suas famílias, dos filhos chorando só de ver as mães e avós chorando pelos que ainda não haviam morrido .... o barulho da dor lhe atirava pedras na janela o chamando pra ver. Isso fez do rei Cambises II um ser desafortunado e que não conseguia mais dormir tranquilamente. Noites e noites em claro, aquele funeral na porta de seu palácio, suas visitas reais vendo aquilo e ouvindo a história por meios que ele desconhecia. Resolveu então convocar o comandante da missão "suicida".
"Comandante X, filho de Y, neto de H menos J elevado ao cubo"
[As palavras do rei, ao ouvido de todos, soa como o barulho do sangue que jorra de uma ferida profunda e maligna]
"Sim, majestade rei! Ó rei Cambises II, filho do Sol!!!"
" Dos escombros das pirâmides que a história há de dizer que construi, embora nunca tenham sido erguidas, me veio a inspiração que há de nos tirar desse impasse"
"Sim majestade rei!!! Ó rei!! Diga lá o seu pensamento real majestoso"
[102 batimentos por minuto]
Fale mais baixo!!! É uma conversa minha e tua a que temos agora! Seu formalismo me irrita! A conversa é entre nśo dois, não deve ser ouvida pelo palácio todo, que o diga pelos que estão à porta da mnha casa!!!
[O comandante engole seco][158 batimentos por minuto]
Mande-os para o deserto ainda. Mas que...
[164 batimentos por minuto]
quando estiverem o mais longe possível da Pérsia, e neste momento, com suprimentos para fazer o caminho de volta....
[Coça a cabeça][165 batimentos por minuto]
....suprimento suficiente para que as últimas migalhas venham a lhes alimentar às portas de suas casas.... que abandonem suas roupas, armas e animais...
[136 batimentos por minuto]
... e que os deixem perecer no deserto. As areias e os ventos se encarregarão do resto.
E assim termina a história do meu avô, que se lembra, como ele sempre gosta de dizer no fim da estória, exatamente do dia em que foi à praça na frente do palácio para abraçar seu pai, que estava partindo pra suposta guerra.
Quanto aos destroços, e não só eles garantiram a Cambises II um lugar na wikipedia e em outras páginas da história. Eeeeeee... é isso, uma velha história de família, contada repetitivamente nos domingos de almoço na casa do meu avô, mas que tinha que ser passada adiante. E não é bem uma história, tá mais pra um "causo", o que não deixa de ter o seu valor
=)
O anúncio da descoberta de um exército composto por 50 mil homens que foram engolidos vivos por uma tempestade de areia, no deserto do Sara do Egipto, há 25 séculos, está a gerar polémica. De um lado, os arqueólogos italianos anunciaram que encontraram pontas de flecha, braceletes e pendentes que pertenceriam ao exército do rei persa Cambises II. Mas Zahi Hawass, chefe da arqueologia egípcia, qualificou esta descoberta de "infundada e enganosa", acrescentando que os italianos não tinham tido permissão para escavar.
Os indícios são poucos e questionáveis e a descoberta dos objectos persas - se for realmente este o caso - não prova por si só que tenham pertencido ao exército perdido: os persas dominaram o Egipto durante mais de século, realizando diversas expedições até à zona onde foram encontradas as peças.
Mas os irmãos Angelo e Alfredo Cartiglioni, que lideram a expedição, argumentam com o facto de estas peças terem sido descobertas num refúgio natural na rota indicada pelo historiador Heródoto, que o exército teria seguido: partiram de Tebas pelos oásis em direcção ao Norte. Depois viraram para Oeste, para surpreender os Amónios, até à meseta de Gilf Kebir, onde teriam sido enterrados por uma tempestade de areia.
[O globo - 28 de novembro de 2009]
No começo eu achei que fossem devaneios do meu avô, senilidade mesmo... nem comentava com a minha mãe para não chateá-la. A loucura, quando bate à sua porta, é deprimente. Mas ter confirmado esta hitória foi, para mim, um choque.
Meu avô sempre dizia que quando era criança havia um governante que tivera grandes idéias, que manteriam o seu nome na eternidade. Para isso ele sempre tentava criar coisas enormes, grandiosas, como uma torre gigante feita em madeira e gelo, ou um carrossel todinho esculpido em marfim. Como nada disso foi o bastante, e mesmo as pessoas ja pensavam em ignorá-lo, imaginando logo quem o sucederia no trono, ele começou a parar de pensar nos seus súditos e passou a planejar coisas mais além. Começou por pagar escritores para que estes relatassem fatos que, na verdade, não haviam acontecido: guerras que ganhara, reis que decapitara, e outras coisas do tipo. Ante ao questionamento que isso haveria de causar e das piadas de butiquins que já lhe rolavam pelo reino, ele pensou em não misturar mais os outros nas suas histórias e glórias...haveria de ser só ele, ele e seu povo persa, a triunfar.
Partindo dessa idéia, ele resolver então inventar pontes sobre rios que nunca foram construídas e jogar escombros no fundo d'água, criar pirâmides que nunca foram erguidas, mas cujos destroços (que nada mais eram do que escombros de uma pedreira que havia ali perto do seu palácio) se faziam ver ali, no meio da cidade, atrapalhando o tráfego de carroças e o fluxo de pessoas.
Tudo isso, no entanto, não era o bastatnte para que seu nome ficasse na história e seu povo parasse de rir dele pelas costas. Ele precisava ousar, precisava criar, algo diferente de qualquer coisa que já havia sido feita.... ele teve então ua idéia: começou a convocar homens, velhos, e reivindicar os cavalos que haviam na cidade para irem a uma guerra que ninguém sabia onde seria, como seria ou por que acontecia. Desta vez com uma grande peculiaridade: a de se passar pelo deserto para se chegar ao caminho alcançado. Obviamente, passar pelo deserto era das coisas menos sábias a se fazer, mas como as imagens valem mais do que desenhos, num rabisco de papiro, com um mapa imaginário, cambises convenceu a todos: era um grande sábio. Mais do que sábio: era um político. talvez pior do que os que existem hoje.
Com esse rascunho, Cambises conseguiria levar homens, animais e..é, homens e animais, para o meio do nada, onde uma tempestade de areia os engoliria. Não fossem alguns boatos que anteviam os planos do rei. Conversas de bar aqui, rumores num jornal da oposição de lá.... meu avô ficava até emocionado nesta parte , pois ele jura que estava la grande praça, em frente ao palácio real, quando várias pessoas, soldados e seus familiares, se reuniram ali, clamando pelas vidas do que iam e implorando para que aquele sacrifício não saísse do papel. Tá certo que não se trata bem de sair do papelo mesmo, pois o rei não havia discutido isso com ninguém. Era mais um pedido para que aquele pensamento sombrio se esvaísse, se apagasse da mente majestosa do rei majestade Cambises II.
O rei, dentro do seu palácio, mas fora dele, o barulho das mulheres chorando, do farfalhar das vestes dos soldados sendo abraçados por suas famílias, dos filhos chorando só de ver as mães e avós chorando pelos que ainda não haviam morrido .... o barulho da dor lhe atirava pedras na janela o chamando pra ver. Isso fez do rei Cambises II um ser desafortunado e que não conseguia mais dormir tranquilamente. Noites e noites em claro, aquele funeral na porta de seu palácio, suas visitas reais vendo aquilo e ouvindo a história por meios que ele desconhecia. Resolveu então convocar o comandante da missão "suicida".
"Comandante X, filho de Y, neto de H menos J elevado ao cubo"
[As palavras do rei, ao ouvido de todos, soa como o barulho do sangue que jorra de uma ferida profunda e maligna]
"Sim, majestade rei! Ó rei Cambises II, filho do Sol!!!"
" Dos escombros das pirâmides que a história há de dizer que construi, embora nunca tenham sido erguidas, me veio a inspiração que há de nos tirar desse impasse"
"Sim majestade rei!!! Ó rei!! Diga lá o seu pensamento real majestoso"
[102 batimentos por minuto]
Fale mais baixo!!! É uma conversa minha e tua a que temos agora! Seu formalismo me irrita! A conversa é entre nśo dois, não deve ser ouvida pelo palácio todo, que o diga pelos que estão à porta da mnha casa!!!
[O comandante engole seco][158 batimentos por minuto]
Mande-os para o deserto ainda. Mas que...
[164 batimentos por minuto]
quando estiverem o mais longe possível da Pérsia, e neste momento, com suprimentos para fazer o caminho de volta....
[Coça a cabeça][165 batimentos por minuto]
....suprimento suficiente para que as últimas migalhas venham a lhes alimentar às portas de suas casas.... que abandonem suas roupas, armas e animais...
[136 batimentos por minuto]
... e que os deixem perecer no deserto. As areias e os ventos se encarregarão do resto.
E assim termina a história do meu avô, que se lembra, como ele sempre gosta de dizer no fim da estória, exatamente do dia em que foi à praça na frente do palácio para abraçar seu pai, que estava partindo pra suposta guerra.
Quanto aos destroços, e não só eles garantiram a Cambises II um lugar na wikipedia e em outras páginas da história. Eeeeeee... é isso, uma velha história de família, contada repetitivamente nos domingos de almoço na casa do meu avô, mas que tinha que ser passada adiante. E não é bem uma história, tá mais pra um "causo", o que não deixa de ter o seu valor
=)
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