domingo, 24 de fevereiro de 2019

Direto da Terra do Sol Nascente #46: eu sou apenas um rapaz, latino americano comendo curry japonês

[Em Hokkaido]

O cozinheiro do restaurante, horrorizado diante da cena, não se segura: joga seu chapéu de cozinheiro pro lado,  lava as mãos e, ainda com o avental, pula o balcão e brada, em alto e bom japonês:

-câregayasaitoishodê,tabemasu.....

[Que traduzo aqui para vocês]

- Você deve comer o curry com os vegetais! O arroz você come depois.Não tem essa de misturar tudo como você está fazendo.

-Mas moço,  digo eu, - e o pobre do arroz, vai acabar frio

Aí o cozinheiro arranca a colher da minha mão, e por um segundo questiono se ele vai colocar a comida na minha boca. Me desconcerto: "- um povo que nem se apertaas mãos, mas toma talheres uns das refeições dos outros". 

Nessa hora pára um carro de som na frente do local, e um homem sobe no capô do carro com um megafone, gritanto:
"-Rafaello, volte 10 casas no seu entendimento da cultura local."

Me desconcerto, embaraçado. O cozinheiro então move a colher, pega o brócoli, e mostra que devo mergulhá-lo para tomá-lo com o curry.

Dou um sorriso ocidental...
"-arigatôgosaimasu!"
Olhos me perscrutam vindos da direção da cozinha.
Como o jantar até o fim.
... sem ousar tocar no arroz
...ou mesmo olhar pra cima.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Visita ao Brasil - tudo do zero

Me sentindo hoje como se fosse defender minha tese, embora menos seguro, sem estar debaixo de asa alguma e só me sustentando sobre meus próprios pés e idéias.

Estranho desconforto de estar com um medo na barriga... crescer deve ser um pouco isso: uma hora você se vê fora do ninho e, quando se dá conta, está voando.


sábado, 2 de fevereiro de 2019

Snoring birds (ou "equilibrando o olhar sobre linhas tênues e dúbias")

O sono, o dormir, são em geral momentos em que nós humanos nos mostramos extremamente frágeis, vulneráveis e expostos. Certamente poderia me perder em discussões "polarizadas" sobre o significados Freudianos dos nossos devaneios oníricos, ou mesmo sobre o fato de animais sonharem ou não. 

O fato é: ver um ser humano dormindo nos traz uma sensação de fragilidade. Uma associação que fazemos sem muito pensar sobre. O mais interessante, e é isso que estava pensando sobre, é como isso pode mudar com quando adicionamos coisas simples à cena. Por exemplo: coloque uma garrafa de álcool ao lado do corpo de um senhor que dorme na rua. Oque mudou? O nosso julgamento sobre beber, sobre alguém que não tem controle sobre si mesmo? É realmente fascinante como fazemos associações inesperadas e alteramos o valor de algo a depender do contexto e das ligações que fazemos. Outra: ouça a 
Abertura da Tannhäuser de Wagner.... agora me permita acrescentar alguns dados sobre o quão chauvinista o autor da obra era. Muda algo? Ou, caso mais recente, ouvir sobre Bill Cosby ou Wooddy  Allen sem associá-los ao seus comportamentos enquanto pessoas/não artistas.

Recentemente o Nytimes publicou umas coisas interessantes sobre isso. Como a autora da carta expõe
"I would be interested in how others feel about separating the work from the reprehensible conduct of the artist. Should we vow never to see another Woody Allen movie again, or a rerun of “The Cosby Show,” or the work of any of the many, all too many, offending creative people?"
[No artigo 1, link abaixo]

1) Separating the Artist’s Conduct and the Art
2) Bad Behavior, Great Art

Outra coisa curiosa até é vermos beleza em animais que roncam. Aonde já se viu, achar bonito uma pessoa roncar?! Nunca!! Mas... se é um bicho é outra coisa: é fofinho. 





Mas enfim.... por hoje já deu.