Chego do almoço. Sento na minha mesa.
Passam alguns minutos, abro minha caixa de emails.
Um email do meu chefe:
"I need to talk to you. It is very important. Come to my office asap."
Asap... as soon as possible... Parece um americano, sem tempo a perder, pra nada.
Mas é um japonês.
Percorro o corredor branco sob um clima sombrio. Ouço meus passos ressoando "nhec-nhec"
Bato na porta. "Yesss....?"
Entro. It's me.
O sol bate la fora, mas as persianas estao todas fechadas. Faz frio. Meu chefe não sorri.
Em geral ele não sorri.
Ele me olha com os olhos semi-cerrados, mais japoneses que antes. Perscrutadores. Invasivos.
Olho pro seu cabelo acaju.
"Ele pinta o cabelo, eu sei", digo a mim mesmo.
Me pergunto oque a atendente da loja pensa quando o ve comprando a tinta pra cabelo.
"-5 milhões de yens!... ahhh brincadeira!"
... e ele não ri da piada japonesa.
"-Voce sabe por que te chamei aqui?"
"-Não muito bem... mas suspeito..."
"-Suspeita?!"
[Ele me interrompe]
"-Foi por causa do Togonama, não? Ele nao vai com a minha cara!"
"-Nao? Vai dizer que voce nao fez oque ele tem dito por aí?"
"E oque ele tem dito?"
"- Que vc roubou o bolo anamaria cremoso ultra recheado da tua colega vietnamita!"
Ele vocifera, aos berros.
Eu olho pro chão.
E comeco a solucar, chorando
"-Mas é por que eu estava com tanta saudade de provar daquele doce...."
Meu rosto, salgado em lágrimas.
"Since I had nowhere permanent to stay, I had no interest whatever in keeping treasures, and since I was empty-handed, I had no fear of being robbed on the way" [Matsuo Bashô , The records of a travel-worn Satchel]
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018
sábado, 10 de fevereiro de 2018
"As constant as a northern star" [Direto da Terra do Sol Nascente, #21: "a impossível arte de ser não sendo (parte IV)"]
Desapego é uma palavra interessante... e que diz respeito a tantas coisas... nossa necessidade de crescer, de nos afugentarmos da dor e/ou de nós mesmos, de tudo aquilo que não nos deixa sermos oque buscamos ser. A profunda necessidade de partir. E isso machuca, nos machuca, machuca os outros. E dói, acima de tudo, vermos que outros também se afastam de nós para poderem crescer, para se alinharem diante de suas escolhas, diante das direções em que buscam remar.
Partir e deixa que os outros partam.
Crescer e deixar que os outros cresçam.
Deixar de amar e aceitar que os outros deixam de nos amar também.
Oh, I am a lonely painter
I live in a box of paints
I'm frightened by the devil
And I'm drawn to those ones that ain't afraid
[Joni Mitchell - A case of you]
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