Há tempos não relato nada neste blog. Talvez seja porque os dias se sucedem como se fossem os mesmos? Ou os acontecimentos ao meu redor, que acontecem mas não capturam minha atenção? Será que ainda sei escrever? Me espressar, dizer o que sinto, narrar o que vejo e se passa?
Me é estranho ainda estar no Brasil. Minto. Um tipo diferente de... digamos, uma "estranheza familiar", se é que isso faz sentido. A parte que não me é estranha, mas sim nova, é lidar com sentimentos com os quais antes havia tido pouco contato: ver a ação do tempo nas pessoas que amamos, reencontrar os parentes mais velhos e sentir a vitalidade se esvaindo deles bem aos poucos, como uma ampulheta que marca o tempo passando... grão em cima de grão, de maneira irreversível.
Não deve ter nem uma semana que o pai de uma amiga próxima faleceu. Mal temos conseguido nos falar desde então: ela me diz que sente um vazio enorme por dentro, que não consegue sentir que tem algo interessante dentro de si pra trocar com o mundo.
Até aqui não aconteceu, mas fico me perguntando o que vai ser quando alguém muito próximo a mim se for. A dor que ela relata, curiosamente, me parece uma dor minha, embora me esforce para não sofrer por antecipação, viver as coisas no seu devido tempo. Mas é difícil: a cada encontro com os pais, perceber uma nova dificuldade que aparece quando eles se locomovem, uma palavra que passou a ser difícil de ser pronunciada, ou outras palavras esquecidas e que fogem à memória.
Não adianta muito evitar, tentarmos nos esconder: o tempo chega, não adianta ficar dando bronca tentando fazer com que comam bem, ou que exercitem a memória fazendo sudoku. Nos resta aceitar que o tempo vai consumindo tudo, aos poucos, como uma areia leve que vai tomando casas de uma praia e as tornando de volta em duna.
Dizem no budismo que a maior fonte do nosso sofrimento é nossa incapacidade de aceitarmos as coisas como são, o nosso apego às coisas, sem levarmos em conta que estas perecem. Reflexão e aprendizado... longo caminho.