segunda-feira, 3 de junho de 2024

Areias do tempo

Há tempos não relato nada neste blog. Talvez seja porque os dias se sucedem como se fossem os mesmos? Ou os acontecimentos ao meu redor, que acontecem mas não capturam minha atenção? Será que ainda sei escrever? Me espressar, dizer o que sinto, narrar o que vejo e se passa?


Me é estranho ainda estar no Brasil. Minto. Um tipo diferente de... digamos, uma "estranheza familiar", se é que isso faz sentido. A parte que não me é estranha, mas sim nova, é lidar com sentimentos com os quais antes havia tido pouco  contato: ver a ação do tempo nas pessoas que amamos, reencontrar os parentes mais velhos e sentir a vitalidade se esvaindo deles bem aos poucos, como uma ampulheta que marca o tempo passando... grão em cima de grão, de maneira irreversível. 

Não deve ter nem uma semana que o pai de uma amiga próxima faleceu. Mal temos conseguido nos falar desde então: ela me diz que sente um vazio enorme por dentro, que não consegue sentir que tem algo interessante dentro de si pra trocar com o mundo. 

Até aqui não aconteceu, mas fico me perguntando o que vai ser quando alguém muito próximo a mim se for. A dor que ela relata, curiosamente, me parece uma dor minha, embora me esforce para não sofrer por antecipação, viver as coisas no seu devido tempo. Mas é difícil: a cada encontro com os pais, perceber uma nova dificuldade que aparece quando eles se locomovem, uma palavra que passou a ser difícil de ser pronunciada, ou outras palavras esquecidas e que fogem à memória.

Não adianta muito evitar, tentarmos nos esconder: o tempo chega, não adianta ficar dando bronca tentando fazer com que comam bem, ou que exercitem a memória fazendo sudoku. Nos resta aceitar que o tempo vai consumindo tudo, aos poucos, como uma areia leve que vai tomando casas de uma praia e as tornando de volta em duna. 

Dizem no budismo que a maior fonte do nosso sofrimento é nossa incapacidade de aceitarmos as coisas como são, o nosso apego às coisas, sem levarmos em conta que estas perecem. Reflexão e aprendizado... longo caminho.

 

domingo, 15 de outubro de 2023

A grama mais verde... que não é assim lá tão verde

 -Tem um monte de pão no congelador, viu? - eu disse, numa tentativa de dissuadí-la de comprar pães. Ainda assim, ela saiu da fila do caixa e falou alto:

"-Quem disse que é pra você? Vou levar pros meus pais."

"-Nossa...que ríspida!", retruquei, num tom de piada para não causar briga.

O rapaz à minha frente, testemunhando o diálogo, resolveu participar e me disse:

"-Eu virei gay justamente achando que isso deixaria de acontecer mas não: ainda é tudo igual"

"-Sério? Não adianta eu virar gay então pra me livrar dessas agressões diminutas mas constantes?"

"-Não... não adianta."

Uma lágrima cai dos meus olhos... esse mundo está perdido.

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Um ano nos trópicos

É, pessoal... um ano nos trópicos. Um aninho desde que pisei novamente nessa terra.

Muita, mas muita coisa mudou desde então: profissionalmente, pessoalmente, em várias esferas. Difícil dizer se houve progresso, mas certamente eu mudei. 

Algumas notas e observações inesperadas:
  • Me surpreende que ao estar mais perto de algumas pessoas eu acabaria por falar menos com elas.
  • Lidar com família tem sido mais fácil do que imaginava. Lidar com amigos também.
  • Como um lado oposto de uma moeda - Brasil versus Japão - hoje meus dias de semana têm menos gente, enquanto finais de semana são mais cheios. 
  • Eu já imaginava que curtia trabalhar com mais pessoas e/ou em times. Aqui isso ficou ainda mais evidente. 
  • Talvez por conta disso meu apreço pelo silêncio e tempo sozinho ficou ainda maior.
  • Sim, acho que tenho alguma forma de hyperacusis.
  • Descobri que engenheiros dominam o mundo. Matemáticos que querem ser ouvidos devem fazer amizades com eles. 
  • Morar no Brasil é muito mais gostoso e fácil do que imaginava. Tem uma riqueza e simplicidade que não existe em outros lugares em que vivi. Talvez o único lugar que conheço que tenha isso - mas de uma outra forma, totalmente diferente - seja o Japão.  
  • Por outro lado, muita gente aqui acredita que o que vem de fora é sempre muito melhor (vira-latismo rules).
  • Crescer no Brasil é muito mais difícil do que imaginava e, quando acontece, se dá em circunstâncias muito mais adversas. Sendo assim, se você vê alguém que consegue crescer por seu próprio esforço aqui você pode tirar o chapéu: essa pessoa pegou muito mais touros pelo chifre do que qualquer primeiro mundista bem sucedido.
  • Jovens são muito mais engajados politicamente do que em qualquer outro lugar que já vivi (exceto talvez pela Alemanha).
  • Infelizmente, as pessoas parecem ter uma crença gigantesca em tudo aquilo que vem pelo celular. Sendo assim, uma reportagem num jornal de renome e uma mensagem no WhatsApp têm a mesma credibilidade pra muita gente. Há uma carência de referências enorme. Às vezes temo viver num mundo dominado por tiktokkers, influencers no instagram e celebridades religiosas ou sertanejas. 
  • Há muito mais pobreza do que imaginava dentre os que não têm nada. E muito mais riqueza do que imaginava dentre os que têm tudo.
Sei que várias vezes falei dessa nossa fase da vida como um capítulo novo a ser escrito. Ainda não me parece claro como ele começa, ou em que momento estou. Talvez seja por isso que tenho escrito tão pouco, atento que estou em desvendar os meandros dessa prosa que permeia o ar. Não sei, pareço entender tudo e logo perder o sentido das coisas, o que me dexa confuso. 

Há muito ainda por se desvendar e fazer. Muito ainda por se depreender e refletir sobre. 
Tipo de lucidez que nos visita aos poucos, sabe? Vai ver só preciso de paciência pra esperar.

terça-feira, 11 de abril de 2023

Repete

 É curioso como relacionamentos implicam em repetições. Ou como, em relacionamentos distintos, a gente acaba ouvindo as mesmas reclamações, ou cometendo os mesmos erros de outrora. 

Será que, no fim das  contas, estamos fadados a sermos sempre os mesmos, carregando nossas falhas e misérias de relacionamento em relacionamento? 

Fiquei pensando sobre isso, até me lembrar de uma animação de uma cineasta que gosto muito (e que já visitou esse blog algumas vezes). 

Divirtam-se.


Michaela Pavlatova, Repete, 1994

segunda-feira, 20 de março de 2023

Paradoxos e incompletudes

Interessante dizerem que Brasil e Japão estão em extremos opostos do mundo. Certamente não é o caso. Em todo caso, fico pensando em como minha vida parece ter mudado da água pro vindo desde que vim de laá pra cá: dias com gente viraram dias sem gente, enquanto finais de semana - em geral vazios e silenciosos- passaram a ser dias agitados com gente em casa, amigos por perto e família mimando. 

Que diferença!!

Mesmo assim, tanto contato não é fácil. E aí mora o grande paradoxo de se ter as coisas: quando temos, parece em excesso; quando não temos, nos carece e dói na alma. Ter voltado tem sido uma grande lição. Uma ressocialização (que eu sempre insisti e dizer que todo doutorando deveria fazer! Independentemente da área!). 

Só sei que estar longe não é fácil. Estar perto é igualmente difícil. Mas tudo é questão de escolhas. Não é legal se viver sozinho. Diante dos atritos que tantos contatos geram, paro e penso no silêncio dos dias sozinhos na terra do sol nascente e no grande exercício que era me forçar fora do meu casulo para ganhar asas. Já aqui... parece tudo me dado na mão, mas mesmo assim... me parece ainda assim que me encontro perdido e incompleto.

Oque falta? Ou melhor: será que era pra ser isso mesmo e que, no fundo, nada me falta?

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Queen of Hearts

 Há um trecho no Alice in Wonderland do qual sempre me lembro.

Ele me veio à cabeça hoje durante uma conversa. A empresa, como várias dessas tech companies pelo mundo, fez um lay-off massivo hoje. Minha cabeça foi poupada, mas a de alguns amigos não. 

Foi triste. Foi triste demais.

É algo horrível ter que ficar pra trás e estar no meio de um monte de gente que discute de maneira unilateral o que aconteceu com uma pessoa que não tem mais voz ali. Isso sem falarmos em casos em que a decisão não parece ter sido motivada por nada lógico: produtividade? Ou seria corte de verbas? Ou seria falta de alinhamento com alguma política imaginária da diretoria? Não sei... me pareceu uma grande arbitrariedade que, por natureza, amanhã pode nos atingir pelos mesmos motivos desconhecidos.

Um dia cheio, que correu a passos lentos, vagarosos e pesados. Ao fim do dia, o corpo sobrevive em cansaço, um pouco de medo, onde várias pessoas se olham assustadas e pensam: será que serei o próximo? 

Anos atrás, um amigo trabalhando numa empresa me relatou algo parecido. Disse-me então que vários colegas nem puderam entrar mais na empresa, que suas mesas foram limpas e suas coisas entregues a eles. E que, neste dia, ele chegou em casa tão cansado que nem acendeu as luzes de casa: foi direto pro sofá dormir. 

À época - ainda na mini apple - eu ficava me perguntando oque seria aquilo e me via tão, mas tão distante daquele mundo. Hoje, pareço ter os dois pés nele. No caso, diferentemente do meu amigo, minha casa é meu escritório, e não tive um sofá pro qual chegar: suportei essa notícia aqui mesmo, embora quisesse tê-la deixado do lado de fora dessas paredes. 

Infelizmente, não deu. As paredes, maculadas, agora parecem sujas dessa realidade que não consigo mais deixar de ver: sei que está ali, e que oque antes era desconforto agora virou uma quebra de confiança. Quem consegue ter voz num ambiente onde se tem medo? 

"Off with their heads".

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Dois pra frente, dois pra trás...

Às vezes acho que já me adaptei, que já me misturo aos meus arredores como um camaleão, inotável. Como um papel de parede, lá vou eu, brasileiro até a alma seguindo pela cidade.

Cidade que me assusta, me surpreende. 

Não sei se há um brasileiro médio. O típico comportamento brasileiro do qual outros brasileiros gostam de falar e criticar. Mas sei o seguinte: que o brasileiro que irrita tem o poder de irritar mesmo. 

Por exemplo: é muito comum encontrar pessoas que ouvem celular alto no metrô. Ou que não tem o menor pudor em deixar o celular com aqueles barulhinhos horríveis, sem o menor respeito pelo espaço auditivo do outro.

É algo tipicamente tupiniquim? Definitivamente não: já vi isso na China, na França, nos EUA. Agora... no Brasil isso ocorre bastante também. 

E isso faz daqui pior? 

Não, não faz. Por outro lado, gera um desconforto estranho, uma desolação que me abate quando presencio essas coisas e penso que pouts, nem em 100 anos esse país vai conseguir vencer essas coisas, dar educação pra todos seus cidadãos, imbuir de bom senso e civilidade a maior parte da população que aqui vive.

Claro, pareço estar sendo dramático ao falar só de um celular barulhento. Antes fosse só isso: o Brasil mostra seu subdesenvolvimento em diversas facetas. Pra piorar, mostra o quão desenvolvido é também em diversas outras coisas.

E aí, nesse turbilhão de contradições, eu não sei mais oque pensar. Pareço viver num grande páis desenvolvido-em-subdesenvolvimento, um oxímoro que só quem pisou nesta terra pode entender. Ou melhor: muitas vezes nem entende (como eu), mas testemunha. 

Um bagunça... uma confusão... ainda estou por entender, mas acho que nunca vou fazer sentido desse país.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Chocolatinho

Eu ainda me lembro do dia em que, logo após voltar ao Brasil, estava num Uber indo pra sei lá onde e tocava no rádio uma música... "-cacete...que país inacreditávelmente doido...", pensei comigo mesmo. No caso, tratava-se de uma música onde o cantor era um homem com evidente sobrepeso, cantando chocolate, chocolate, eu só quero chocolate.... realmente... as pessoas não prestam atenção no que ouvem.... Por um minuto fiquei imaginando aquele homem rechonchudinho cantando na TV nos anos 80-90, falando sobre chocolate, as pessoas aplaudindo, a inflação lá no alto etc etc.

[Vai,  Brasil!!]

Mas porque falo dessa lembrança? Por que ela me remete a uma outra, mais recente e também cheia de açúcar: conversava com um amigo numa mesa de bar, logo após o trabalho. Meu amigo abria o coração me dizendo como não consegue resistir a panetones e chocolates. "-Os compro pra durarem uma semana e, num piscar de olhos, os mesmos desaparecem na mesma tarde que são abertos." "-Cara... te entendo.. não sou muito diferente", disse a ele. Momento fofo de terapia profunda: dois homens brancos, héteros, mostrando toda sua vulnerabilidade e dificuldades para se conterem diante de iguarias adocicadas, panetones etc.

(Mesa 37) auto-controle per capita == 0.

Aí, no meio desse papo de trabalho, vida de adulto, ascenção na carreira etc, me lembrei de uma coisa engraçada: "-cara... você sabia que há vários experimentos que fizeram acompanhando pessoas durante uma vida; em vários deles dividem pessoas em grupos com comportamentos distintos com relação a uma variável X (como um grupo controle e outro experimental, apesar de ser um experimento observacional). "

Aí continuei, explicando que os experimentadores tentam ver oque os dois grupos têm de diferente e igual, apesar daquela variável  X diferir. "Há um desses experimentos que é muito interessante: os experimentadores davam um doce (chocolate?) pra crianças e diziam pras mesmas 
'se eu voltar daqui a 10 minutos e você ainda tiver esse chocolate, você vai ganhar um segundo chocolate'. 
À partir dali a população estudada se dividia em duas: o grupo dos que resistiam e não comiam a iguaria; e o outro grupo, dos afoitos que comiam tudo e não recebiam."

"-A parte curiosa desse experimento é a seguinte:", disse pro meu amigo, "-As pessoas do grupo que espera pelo segundo chocolate - evidentemente o grupo do qual não faríamos parte -  sao aquelas que, anos após o experimento, viram CEOs de empresas multibilionárias, ganharam prêmios disso e aquilo, viram grandes inventores ou empreendedores. Já o outro grupo - no qual suspeito que a gente cairia - são aquelas pessoas que se casam 3 vezes, levam uma vida instável, pulam de emprego em emprego, têm uma taxa de mortalidade milhares de vezes maior que a do grupo anterior." Aí os dois começamos a rir meio sem graça, meio que em desespero. Oque será que o futuro nos guarda de surpresas? 

Agora que penso nessa conversa eu fico me perguntando o quão desesperador é tudo isso: se imaginar dentro de uma vida à qual você não quer pertencer. Ou uma existência em que se tem a plena consciência de ter tantos fatores contra ela mesma que cada vitória é e deve ser celebrada como se fossem 10... com muita festa, gratificação... (e chocolates, claro!)

No fundo, sou um besta em pensar isso: nenhum chocolate vai ser tão gostoso como antes se eu continuar tirando reflexões inúteis como esta de cada mordida que der nesses doces. Vai ver, isso sim, quem tava certo era aquele cantor gordinho cantando serelepe e feliz sobre chocolate e a felicidade que o mesmo nos trás. 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Adultescência, tardia mas precoce

 Uma das coisas que mais interessante de se morar perto dos pais é poder visitá-los durante um dia de trabalho e, pra variar um pouco o ambiente, trabalhar na casa deles. Mas é nessa hora que você tropeça na fronteira que separa tua vida adulta da tua vida de adolescente.

E mesmo que arame farpado ali houvesse, não adiantaria: por mais cuidado que se tenha, lá vem tua mãe atrapalhar tua reunião importante pra te oferecer um suco, ou atravessar a sala durante uma call com câmera ligada com um recado "fui comprar manteiga pra fazer pão".

É foda.

Eu fico bravo, digo que não é pra entrar no escritório enquanto estou trabalhando ou em reunião, mas começo a rir sozinho dessas absurdidades que chegam a ser fofas de tão nonsense. Porque, no fundo, não adianta: nossos pais nunca vão entender que a gente cresceu.

Mas o pior disso é ver que não apenas crescemos, como invertemos os papéis:provavelmente lá estavamos nós, aos 5, querendo brincar de pega-pega enquanto nossos pais queriam é brincar de um outro pega-pega (entre eles somente, claro), ou queríamos ficar cantando na frente da TV e pulando no sofá enquanto eles queriam ler um livro. Hoje, é o contrário: os adultos somos nós, eles é que viraram crianças.

Não sei... só sei que estou desistindo. Não adianta falar mais, só me resta evitar e não repetir esses erros de achar que sou eu que tenho o controle da situação. Bate então o momento humildade, eu tentando aprender com essas fraquezas que me desviam a alma.... e não chego à lugar algum. Me pergunto que tipo de coisas hei de fazer aos 60... 70... de quantas formas diferentes podemos encabular nossos jovens filhos que ainda não temos? Pergunta retórica e difícil... mas já estou preparando uma listinha hee hee :)

O pleito, as pestes e a copa do mundo

Anda-se pelo Brasil nestes dias e se vê o seguinte: "patriotas", pessoas vestidas com a camiseta da seleção brasiliana ou envolvidos na bandeira. Pessoas que tẽm se encontrado na frente dos quartéis do país para pedir uma intervenção militar, já que clamam que as eleições foram roubadas, ou que o Brasil há de virar um país comunista, ou qualquer outra loucura na qual acreditam.

Loucura é ver isso e saber que existe um universo paralelo, do qual só vemos essas manifestações espúrias. Seres que parecem sair sabe-se de onde, de que beco, de quais esconderijos, para surgir à tona, clamando espaço forçosamente de maneira que todo aquele que os outros têm deva ser anulado ou extirpado.

O Brasil desses brasilianos me assusta. 

Daqui até janeiro, quando o governo muda, falta um mês. Até lá, menos angústia do que antes. Ainda assim, me dá coceira imaginar oque há de acontecer nos 4 anos que temos adiante. Mais loucura? Donald Trump reeleito? Steve Bannon dando mais consultorias pra extrema direita tupiniquim? Scary...

Olha pro Brasil do futuro com menos medo do que tinha antes. Claro, não deixei de ver o abismo insuplantável que separa o país onde vivo agora do futuro pro qual o mundo parece seguir: o Brasil há de chegar lá... com muito atraso, uns 1000 anos depois de todos os outros países do Norte. Acho que temos que perder umas mil copas do mundo antes de nos entusiasmarmos de maneira besta com gols de jogadores milionários e idiotas, ou dançarmos como se não houvesse amanhã a cada carnaval, tudo enquanto o congresso vota na surdina as leis mais estapafúrdias e que só exacerbam a desigualdade e corrupção nesse país.

É triste admitir, mas o brasliano deveria sofrer mais, ter que assistir mais 7X1 em pleno Maracanã, ter que admitir sua pequeneza diante do resto do mundo... acho que isso nos tornaria mais adultos, mais realistas, desmistificando essa ilusão absurda que muita gente compra: de que o Brasil é o país do amanhã. 

Não, gente: não é.

Ok, Ok. Vocês devem me ler e pensar: "-Caramba... Rafaello tá amargo hoje!" Vai ver sim... mas a culpa é da Copa: só se fala nisso, só se vê isso, em shoppings as pessoas colecionam figurinhas, adultos tentam entrar numa máquina do tempo e completar seus álbuns... Neymar, Richarlison e outros tantos... 

Sei lá... peguei bode dessa copa do mundo. Mas admito que há coisas boas nela, como um respiro no meio da semana pra ver os amigos, pra dar uns beijinhos, pra ver algo verde (uma tela verde com aquele gramado lindo) no meio de uma cidade tão cinza como as que vivemos. É.... melhor parar por aqui: acho que estou pra lá de amargo hoje.